Arena do Pavini - A eleição para presidente do próximo ano vai criar muitas expectativas e turbulências, mas não deve afetar o crescimento do país, que já está contratado, afirmou hoje o presidente executivo e do conselho de administração do Bradesco (SA:BBDC4), Luiz Carlos Trabuco Cappi, durante almoço com jornalistas. Para ele, mesmo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhe, o político deverá levar adiante a reforma da Previdência, que Trabuco chama de “a mãe de todas as reformas”. “É consensual que no debate político se tenha um discurso diferente, mas mesmo ele, se eleito, terá de fazer a reforma, fundamental para o país retomar a confiança de longo prazo e os investimentos”, acredita o presidente do Bradesco.
Para ele, as turbulências por conta da disputa política são normais, e o número de candidatos este ano será maior até pela diversidade de visões da sociedade brasileira. “Mas as eleições vão passar e o ano será positivo”, afirma.
Crescimento já contratado pelo consumo
Para Trabuco, o crescimento da economia do ano que vem está ancorado na retomada do consumo e no juro baixo, que permitirão à economia ocupar a capacidade ociosa criada pela queda de quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos dois anos. “Hoje o chamado hiato do produto (espaço para o pais aumentar a produção sem criar inflação) está muito largo, e qualquer retomada do consumo deverá favorecer o crescimento no ano que vem, mesmo com as eleições ou o adiamento das reformas”, diz.
Reformas mais importantes que eleição
Já os investimentos, que são fundamentais para que o crescimento se torne sustentável por mais tempo, vão depender mais das reformas do que das eleições. “Eu acredito que uma retomada dos investimentos também está contratada, pois o Brasil é um bom país para investir, com grande mercado consumidor, e os investidores estão com o dedo no gatilho aguardando para investir”, diz. No caso de aprovação das reformas, porém, esse investimento será maior. Segundo ele, esse é um processo normal de aumento das expectativas em um país com eleição presidencial. “E as ofertas públicas de ações que vimos este ano são um sinal importante dessa volta dos investimentos”, afirma Trabuco.
Para ele, a aprovação da reforma da Previdência não terá impactos imediatos nas contas públicas, mas será importante para sinalizar o equilíbrio fiscal de longo prazo do país. O envelhecimento da população comprometerá o sistema de repartição atual da Previdência, no qual os trabalhadores da ativa pagam o benefício dos aposentados. “Hoje a Previdência Social está baseada em um pacto de gerações feito há muitas décadas, quando a estrutura demográfica era outra, e se não mudarmos isso haverá um conflito de gerações, e não um pacto”, diz.
Outro nível de juros
Sem esse ajuste, o Estado brasileiro não terá recursos para atender as demandas da sociedade brasileira, que já convive com uma grande dívida social. “Ela é fundamental para o país cumprir o teto de gastos criado pelo governo, se não a situação vai requerer outro nível de juros, mais alto”, afirma, numa referência à queda da taxa básica para 7% ao ano.
Aprovação da Previdência ainda em 2018
Trabuco acredita que, apesar do adiamento de hoje da votação para 19 de fevereiro, a reforma da Previdência ainda pode ser aprovada antes das eleições de 2018. “Houve um aumento da compreensão da sociedade da necessidade de aprovar essa reforma para equilibrar a Previdência e para os juros continuarem baixos e o país continuar crescendo”, explica. Para ele, o governo do presidente Michel Temer ainda tem capital político para levar adiante as reformas.
Fora da política
Trabuco negou também que pense em entrar na política. “Nunca tive e nunca terei atuação político-partidária, minha vocação é o que faço há 50 anos no Bradesco”, deixou claro. Ele chegou a ser cotado no começo do segundo governo de Dilma Rousseff para ser ministro da Fazenda, cargo que acabou ocupado por outro executivo do Bradesco da época, Joaquim Levy.
Crédito para empresas cresce pela 1ª vez em 2 anos
O crédito também apresenta “tração” maior neste fim de ano, afirma Trabuco, com um aumento da demanda não só das pessoas físicas como também de pequenas e médias empresas. “Notamos um aumento das consultas diárias e das operações e o aumento do crédito já é uma realidade neste trimestre”, afirma.
Segundo Trabuco, o primeiro sinal de ativação da economia é a procura das empresas por capital de giro, o que aconteceu neste trimestre, pela primeira vez em dois anos. “Desde o fim de 2015 o volume de empréstimos de capital de giro não crescia, e estamos vendo isso neste fim de ano”, destaca.
Já no crédito para pessoas físicas, as pessoas que não perderam o emprego estão agora trocando de carro ou os móveis da casa, e isso está reativando a economia. “Depois devem vir os investimentos, que caíram para 14% do PIB, mas precisam subir para 18% se quisermos manter um crescimento de 2% do PIB ao ano”, estima.
Sobre o spread dos bancos, a diferença entre a taxa que o banco paga na captação e a que cobra nos empréstimos, Trabuco diz que ela cairá. “A queda do spread é uma questão de tempo, hoje ele é mais alto para custear a bancarização do país”, afirma. Alexandre da Silva Glüher, vice-presidente executivo e responsável pela área de relações com investidores, acrescentou que o spread é um dos componente do custo de crédito. “Há também os impostos e a inadimplência, que está recuando, tanto que em 2017 tivemos uma volta à normalidade nos atrasos, e isso vai colaborar para a redução do spread “, diz.
Carlos Firetti, diretor de Relações com o mercado, lembra que não se deve comparar os empréstimos apenas com a taxa básica Selic, hoje de 7% ao ano. “Hoje, o juro futuro está em 6,75% ao ano para 2018, mas pula para 10,8% depois de 2019, um reflexo das dúvidas do mercado sobre a aprovação da reforma da Previdência e a expectativa com a eleição de 2018, e é esse custo que o banco paga nas captações do mercado”, explica. Ele espera que com o risco de inadimplência diminua com a melhora da economia e isso seja repassado para as taxas dos empréstimos.
Incerteza puxa juros futuros
Trabuco cita essa diferença das taxas de juros futuras, de 4 pontos percentuais, que indicariam a preocupação do mercado com a deterioração fiscal do país nos próximos anos. “Se calcularmos 4% sobre uma dívida pública de R$ 3 trilhões, temos um custo anual de R$ 120 bilhões por conta dessa incerteza”, afirma.
Novos conselheiros do Bradesco e novo presidente
Sobre a escolha dos novos conselheiros do banco, Trabuco, que assumiu recentemente o lugar de Lázaro de Mello Brandão na presidência do Conselho, diz que uma decisão deve ser tomada no começo do ano, pois será preciso comunicar ao mercado dos assuntos que serão aprovados na assembleia anual de março. Hoje, o conselho está com seis participantes, mas deve ficar com um número entre 9 e 11, já com a expectativa de que o órgão passe a assumir outras responsabilidades como controles de riscos e o comando de áreas específicas.
Trabuco espera também que já na eleição do novo conselho ocorra a escolha do nome de seu sucessor na presidência executiva do banco. Ele deixou claro, porém, que a escolha deve ser feita dentro dos quadros do banco. “Somos um banco de carreira, um banco de bancários, uma tradição que para nós não é uma âncora, mas uma raiz que nos dá sustentação”, diz.
Compulsórios precisam de ajuste
O presidente do Bradesco espera também uma redução no nível dos empréstimos compulsórios por parte do Banco Central, como sinalizou o presidente do BC, Ilan Goldfajn, em discursos esta semana. Trabuco lembra que esses depósitos feitos no BC, alguns com remuneração e outros sem, são os mais altos do mundo no Brasil por terem sido usados por muito tempo como política de enxugar a liquidez, impedir que os bancos usassem o dinheiro dos clientes para lucrar com os juros altos pagos pelo governo ou mais recentemente para reduzir a oferta de crédito. “Mas isso era para um nível de juros de 15% ao ano, e hoje a Selic está em 7%, então não faz sentido um compulsório tão elevado”, diz Trabuco.
Maior concorrência e spread menor
Alexandre Glüher acrescenta que a redução do compulsório teria o efeito de ajudar na redução do spread dos empréstimos e aumentaria a concorrência entre os bancos, mas não significa que o BC vá fazer essa redução agora. “O presidente do BC tem indicado que isso está no radar”, afirma. O Bradesco tinha no terceiro trimestre R$ 69 bilhões recolhidos no Banco Central a título de compulsório, para um total de depósitos de R$ 439 bilhões.
Pior para grandes empresas passou
Trabuco avalia também que o pior da crise de crédito das grandes empresas, o chamado crédito corporativo, já passou. “Os bancos foram capazes de absorver essa massa de perdas, e agora as empresas se reestruturaram ou foram vendidas, então esperamos que o crédito corporativo volte a crescer no ano que vem”, afirma.
Banco quer capturar ganhos com retomada da economia
Sobre o futuro do banco, Trabuco afirma que não está nos planos da instituição uma expansão internacional e que seu objetivo é capturar a volta do crescimento da economia brasileira. “Passamos pelas dificuldades dos últimos anos sem rever nossa estratégia e vamos continuar sendo um banco com forte presença nacional em todos os segmentos da sociedade”, diz Trabuco. “Com o Brasil voltando a crescer, seremos a instituição financeira com a maior capacidade de capturar valor nessa retomada, com nossas 2.000 agências em cidades em que a concorrência não está, o que nos dá uma grande vantagem competitiva”, diz.
Potencial para crescer mesmo com Basileia 3
O banco está também preparado para crescer em termos de capital, afirma Alexandre Glüher, citando o Índice de Basileia do Bradesco. O índice, que calcula o patrimônio do banco ponderado pelo risco de seus empréstimos, o que dá uma ideia de quanto ele tem para garantir eventuais perdas com calores, está em torno de 13%, acima dos 12% que seriam exigidos pela nova regra, o chamado Acordo de Basileia 3, que entrará em vigor no início de 2019. Com o nível atual de capital, o banco teria condições de crescer sua carteira de crédito sem problemas, e ainda deverá contar com o lucro dos próximos anos para reforçar o capital. “Nossas simulações são de que poderíamos crescer nossa carteira de crédito mais que o percentual do sistema financeiro como um todo, o que seria mais de 6% no ano que vem”, afirma Glüher, deixando claro que não se trata de uma projeção.
Por Arena do Pavini