Por Loucoumane Coulibaly
ABIDJÃ (Reuters) - Ao vasculhar a praia com um saco de lixo grande para recolher chinelos abandonados e outros calçados, o artista marfinense Aristide Kouame está ciente de que os banhistas provavelmente o consideram um vendedor de rua desesperado, ou até um louco.
Mal sabem eles que Kouame, de 26 anos, transforma os restos em obras de arte avaliadas em até 1 mil dólares cortando as solas de borracha e plástico para moldá-las como peças que ele monta em grandes colagens.
"Este é o lixo que as pessoas jogaram no mar e o mar traz de volta para nós porque não o quer", disse Kouame em uma praia de Abidjã, a capital comercial da Costa do Marfim.
"Faço arte com calçados usados... é uma maneira de dar vida a objetos que entulham as praias".
Sentado no chão de um beco estreito, Kouame esculpe formas, letras e rostos nas solas de borracha que resgatou da praia. Ele faz a própria tinta triturando os restos remanescentes em pilhas de pigmento tecnicolor.
Sua técnica é ao mesmo tempo barata e ecologicamente consciente.
O plástico e outros detritos --incluindo grandes quantidades de chinelos perdidos ou descartados-- se espalham pela maioria das praias urbanas da África Ocidental, e o lixo lançado nos canais das cidades é carregado para o mar e volta à praia com as marés.
Os métodos originais de Kouame chamaram a atenção do establishment artístico da Costa do Marfim em poucos anos, e suas obras se encontram em galerias nacionais e estrangeiras.