Por Elaine Lies e Gabrielle Tétrault-Farber
TÓQUIO (Reuters) - No fim das contas, Simone Biles decidiu abandonar a final da ginástica artística feminina por equipes da Tóquio 2020, nesta terça-feira, porque simplesmente não sentia que as coisas estavam bem depois de sua apresentação no salto, dizendo que a saúde mental é mais importante que o esporte.
Biles, que escrevera no Instagram apenas um dia antes que estava sentindo o peso do mundo nos ombros, decidiu que, em vez de correr o risco de lesão --e de perder a medalha para o resto da equipe-- ela precisava parar.
“É como lutar com todos aqueles demônios e vir aqui. Eu coloquei meu orgulho de lado. Eu tenho que fazer isso pelo time”, disse Biles a repórteres após a competição coletiva, na qual suas companheiras conquistaram a medalha de prata, com uma das participantes tendo pouco tempo para se aquecer antes de competir.
“E no fim do dia, foi tipo ‘sabe de uma coisa, eu tenho que fazer o que é certo para mim e focar na minha saúde mental e não prejudicar minha saúde e meu bem-estar’”, disse.
Biles, considerada por muitos a maior ginasta de todos os tempos, manteve em aberto a possibilidade de ainda competir em Tóquio, mas disse que lidaria com um dia de cada vez. Ela ainda tem as competições do individual geral e por aparelhos.
Ao dar um passo atrás, e falar sobre isso, Biles se junta à estrela do tênis Naomi Osaka, japonesa que se retirou do Aberto da França alguns meses atrás citando a necessidade de priorizar sua saúde mental em vez de participar de entrevistas coletivas obrigatórias, após ela ter sido multada por não aparecer.
Osaka perdeu na chave feminina de simples do tênis também nesta terça e disse que também estava sentindo o peso das expectativas. Ela foi a última carregadora da tocha olímpica a acendeu a pira olímpica na cerimônia de abertura de sexta-feira.
"PERDIDA"
Após o salto, Biles teve uma apressada conferência com sua equipe, parecendo incomodada, e depois saiu do tablado com a sua mochila. Ela reapareceu com o uniforme de descanso, assistiu às colegas conquistarem a medalha de prata e até fez brincadeiras dançando com a companheira Jordan Chiles.
Mas depois ela falou sobre se sentir “perdida” após o salto e decidir que precisava “acabar com isso”, sublinhando que foi ela quem tomou a decisão, e não seus treinadores.
Antes da Olimpíada, Biles afirmou que estava passando por algumas dificuldades e usando terapia e remédios para lidar com a situação. Mas depois de viajar aos Jogos, o estresse começou a se intensificar.
Foi especialmente duro o sentimento de que não estava mais fazendo ginástica para ela própria, mas para o resto do mundo, disse.
“É um saco quando você está lutando com sua própria cabeça. Você quer fazer por si mesma, mas está muito preocupada com o que todo mundo vai dizer, vai pensar, a internet”, disse.
Às vezes calma, filosófica e até fazendo piadas com as companheiras, Biles segurou as lágrimas em certo momento.
“Eu simplesmente não confio em mim mesma como eu costumava. Eu não sei se é a idade. Estou um pouco mais nervosa quando pratico ginástica. Sinto também que não estou me divertindo”, acrescentou a atleta de 24 anos, dona de quatro medalhas de ouro, uma de prata e outra de bronze nas Olimpíadas.
“Eu sei que eu quero que essa Olimpíada seja para mim”, disse, chorando. “Eu vim e sinto que estou fazendo isso para outras pessoas, e isso machuca meu coração. Fazer o que eu amo meio que foi retirado de mim para agradar outras pessoas”.
Biles citou Osaka como inspiração e disse que achava bom falar sobre saúde mental nos esportes.
"Também temos que nos concentrar em nós mesmos porque, no fim das contas, também somos humanos. Temos que proteger nossa mente e nosso corpo, em vez de apenas sair e fazer o que o mundo quer que a gente faças."
(Reportagem adicional de Amy Tennery, Karen Braun e Leela deKretser)