Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que pretende concluir acordo do Mercosul com a União Europeia até o fim deste semestre, mas adiantou que não deve manter os termos atuais do tratado.
Em declaração à imprensa após reunião com o chanceler alemão, Olaf Scholz, Lula disse que o Brasil terá flexibilidade nas negociações, mesma disposição que disse esperar também dos europeus.
"Nós vamos trabalhar de forma muito, mas muito dura para que a gente possa concretizar esse acordo. Alguma coisa tem que ser mudada, ele não pode ser feito tal como ele está", disse o presidente.
A versão atual do acordo foi fechada durante os governos de Jair Bolsonaro no Brasil e Maurício Macri na Argentina, mas não foi efetivado por resistência de diversos países europeus em ratificá-lo por conta das políticas ambientais de Bolsonaro.
Os atuais governos de Brasil e Argentina, com Lula e Alberto Fernández, mantêm a intenção de consolidar o acordo, mas querem renegociar alguns pontos considerados ruins para a América do Sul. No caso brasileiro, Lula citou especificamente a entrada dos europeus no mercado de compras governamentais que, segundo ele, pode prejudicar pequenos e médios empresários no país.
"Vamos mostrar aos europeus como somos flexíveis e queremos que eles também sejam. Vamos negociar da forma mais aberta possível", disse Lula.
Ao ouvir a previsão de Lula de fechar um acordo nos próximos meses, o chanceler alemão brincou que estava admirado com a "energia" do presidente, que previa a conclusão do acordo "ambicioso" como do Mercosul e UE em seis meses, mas disse que a Alemanha também se empenhará para que a negociação avance.
"Concordamos que o acordo é do interesse de ambas as regiões", afirmou.
OCDE
Ao ser questionado se o Brasil mantém a intenção de passar a fazer parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) --negociação iniciada no governo Bolsonaro e para a qual empresários brasileiros reunidos nesta segunda-feira com colegas alemães pediram apoio do país europeu--, Lula afirmou que sempre foi a favor de entidades multilaterais, mas precisa saber qual será o papel no Brasil no organismo.
"Não podemos participar como cidadão menor, como um observador. Estamos dispostos a discutir outra vez e saber as condições para a entrada do Brasil", afirmou.
Lula defendeu com mais ênfase a retomada das negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), que perdeu relevância nos últimos anos, e pediu apoio da Alemanha para que o organismo volte a ser um fórum de negociação multilateral sobre o comércio internacional.
(Edição de Pedro Fonseca)