Investing.com - Apesar de um início de ano fraco, as ações brasileiras terminaram o 1º semestre inspirando otimismo. De acordo com o levantamento da XP (BVMF:XPBR31) com projeções para o segundo semestre de 2023, divulgado nesta quarta-feira (5), isso foi por uma combinação de melhora das perspectivas econômicas depois de dados econômicos mais positivos do que esperado, redução dos ruídos políticos e riscos fiscais e leituras de inflação que melhoraram e expectativas de corte de juros em breve.
"Apesar da queda de 25% da Vale (BVMF:VALE3) neste semestre que passou, que tem muito a ver com com a questão da China, a bolsa brasileira já estaria em 131 mil pontos. E, assumindo que daqui pra frente, teremos a estabilidade deste papel, então esta é uma das razões que mantemos o nosso otimismo. Olhando para frente, vemos um cenário muito positivo se materializando: perspectivas de crescimento melhor do que o esperado, inflação mais baixa e taxas de juros menores. Nosso valor justo do Ibovespa é de 130.000 pontos para o final de 2023", explica Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research da XP.
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Embora o Ibovespa já tenha subido cerca de 20% desde suas mínimas, muitos questionam se o cenário positivo à frente, especialmente taxas mais baixas de juros, já foi precificado. No entanto, para o time da XP, há vários motivos que m=podem levar o rali a durar por mais um período. De acordo com o levantamento, o rali aconteceu apesar de uma grande queda da maior ação do Ibovespa e as ações brasileiras tendem a ser positivas em ciclos de corte de juros.
"Nos últimos 20 anos, os índices Ibovespa,(NASDAQ:EWZS) (Bolsa brasileira em dólares), e Small Caps entregaram um retorno médio entre 30%-45% durante os ciclos de corte de juros", explica Ferreira.
A XP acredita ainda que há potencial para fluxos de capital estrangeiro mais fortes na Bolsa. "Enquanto a entrada de capital estrangeiro é positiva no acumulado do ano em R$ 20,8 bilhões, os dados mensais não têm sido consistentes até o momento. Se o cenário doméstico continuar melhorando, um forte retorno do capital estrangeiro pode ajudar a sustentar ainda mais a recuperação das ações brasileiras", completa.
Além disso, os fluxos institucionais ainda não retornaram e os investidores Pessoa Física (PF) ainda estão com pouca alocação em bolsa, mas o sentimento já tem ficado mais positivo. O cenário ainda conta com os níveis de posições vendidas seguem próximos dos máximos históricos e o valuation seguindo descontado.
Mesmo com o otimismo com o índice brasileiro para o segundo semestre, o time de research mantém um tom de cautela quando mencionada a possibilidade de recessão no cenário externo. "Ainda existem riscos de recessão lá fora, que podem pesar nos preços das commodities, além de riscos de retorno das incertezas do lado fiscal no Brasil, com a reforma tributária sendo o próximo item da agenda, principalmente sua segunda parte que será focada em renda", comentam.
Recessão e cenário externo
Caio Megale, economista-chefe da XP, acredita que o Brasil está em destaque entre os países emergentes. Isso se deve aos fatores que veem favorecendo o país diante de episódios externos e internos. De acordo com ele, é uma economia que mostra que mostra resiliência, com projeção do PIB revisada para 2,2% ante 1% no semestre passado.
"As contas públicas mostraram melhora desde o início do ano. O governo apresentou um arcabouço fiscal que, apesar de depender do crescimento da receita, reduziu a probabilidade de cenários extremos. Também, anunciou medidas para aumentar a arrecadação, que podem somar mais de R$ 250 bilhões, mas muitas delas correm alto risco de não ser implementadas ou não atingir o valor estimado. Ainda assim, esperamos agora resultado mais positivo para 2023: déficit primário do governo central de R$ 122 bilhões (1,1% do PIB) e dívida bruta do governo geral de 75,8% do PIB. Os desafios permanecem, pois o governo central precisa arrecadar cerca de R$ 100 bilhões adicionais para cumprir a meta de resultado primário de 2024", argumentou o especialista.
Para a inflação, a XP vê o indicador com "surpresa para baixo" pela primeira vez desde a pandemia. Em janeiro, os especialistas projetavam o IPCA em 5,4% para este ano e a estimativa foi elevada para 6,2% após dados "desanimadores" até abril. Hoje, a XP prevê alta de 4,7% para o índice. A queda desde então tem sido impulsionada por eventos internos e externos, afetando principalmente alimentos, bens industriais e bens administrados (principalmente gasolina).
"Esse melhor desempenho deve ajudar a manter a inflação sob controle no curto prazo, embora não acreditemos que o IPCA convirja para a meta de 3% tão cedo. Em horizontes mais longos, ainda vemos a sustentabilidade fiscal como o principal risco para o Banco Central (BC). Também vemos a taxa de câmbio na faixa de 4,50-5,00 R$/US$ por enquanto. E mantemos uma previsão de R$/US$ 5,00 no final do ano", pontuam em relatório.
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