Investing.com - Saber o futuro da taxa de câmbio é fundamental não só para investidores, mas também para as empresas que precisam traçar seus cenários para o futuro e também para o governo. Em relatório divulgado nesta terça-feira, o Itaú (SA:ITUB4) destaca que a taxa de câmbio é determinada pela quantidade de recursos disponíveis para financiar o déficit em conta corrente de um país. A depender do cenário, a moeda americana pode se estabilizar entre R$ 2,75 e R$ 5,25.
Dessa forma, nos momentos em que há uma redução da disponibilidade de financiamento externo, seja por motivos internacionais ou domésticos, o déficit em conta corrente precisa ser reduzido, ou até mesmo virar um superávit. Para que isso seja possível, o banco destaca que a taxa de cambio se deprecia de forma a gerar o resultado em conta corrente consistente com as novas condições de financiamento externo.
Levando em consideração o cenário atual, com o real perdendo força diante do dólar nos últimos meses, os sinais dão conta que pode haver menos recursos disponíveis para financiar o déficit em conta corrente no Brasil do que já existiu no passado.
Entre 1947 e 2017, o déficit em conta corrente médio no país foi de aproximadamente 2% do PIB. No entanto, lembra o banco, a média histórica esconde dois regimes distintos de financiamento: um sem disponibilidade de financiamento, com superávits em conta corrente entre 0% e 1% do PIB (como no fim da década de 80 e início dos anos 2000) e outro com maior disponibilidade de financiamento externo, isto é, com déficits em conta corrente entre 3% e 4% do PIB (fim da década de 90 e pós-crise de 2008).
Analisando os dados dos últimos 70 anos, o Itaú conclui que os regimes sem disponibilidade de financiamento ocorreram em períodos de políticas macroeconômicas ruins e ausência de amortecedores. O crescimento do PIB no período, por si só, parece importar menos. O que mais importa é que as condições macroeconômicas sejam adequadas, ou seja, políticas que visem ao crescimento sustentável, à estabilidade monetária e ao equilíbrio fiscal e externo.
Avaliando o cenário externo, a liquidez apertada é relevante, mas não um fator decisivo. Vale notar, no entanto, que é em momentos de piora do ambiente internacional que as fragilidades domésticas costumam ser evidenciadas mais nitidamente e, por isso, episódios de restrição de liquidez global podem, mesmo que indiretamente, diminuir o fluxo de financiamento para o País.
No documento do Itaú, os analistas destacam que o cenário internacional tem se mostrado desafiador. A normalização da inflação americana em direção à meta de 2% deve fazer com que o Fed eleve as taxas de juros ao longo próximos anos. O BCE também anunciou recentemente a redução no ritmo de compra de ativos a partir de setembro deste ano.
Com isso, o banco avalia que a liquidez global deve ficar menor ao longo dos próximos anos, assim como o fluxo de capitais para emergentes. Para determinar o financiamento externo disponível nos próximos anos, o mais importante será acompanhar a evolução da política macroeconômica doméstica.
Porém, as incertezas elevadas acerca da aprovação das reformas, especialmente daquelas que podem influenciar a dinâmica da dívida pública ao longo dos próximos anos. Desta forma, a equipe do banco acredita que este será o fator-chave para definir se estamos migrando para um regime com ou sem financiamento externo.
A existência de amortecedores é atenuante importante. Porém, enquanto a incerteza fiscal prevalecer, é plausível esperar a migração para um regime com menor disponibilidade de financiamento externo, ainda que seja difícil antecipar com precisão o timing de tal movimento e se ele pode ser revertido caso as reformas fiscais avancem.
Para o Itaú, se nos próximos anos voltarmos para um regime de ampla disponibilidade de financiamento externo (comportando déficits em conta corrente de 3% a 4% do PIB), o câmbio pode voltar para o intervalo de R$ 2,75 a R$ 3,50 por dólar (a preços de hoje). Por outro lado, se o regime for de indisponibilidade de financiamento, o saldo em conta corrente precisará ser positivo (superávit de 1% do PIB) e a taxa de câmbio deve se equilibrar em torno de R$ 4,75 por dólar (a preços de hoje).
Para o banco, ao longo dos próximos anos o cenário internacional deve se mostrar desafiador, com redução da liquidez global. Apesar disso, a aprovação das reformas, especialmente daquelas que geram uma dinâmica fiscal mais sustentável, será o ponto-chave para determinar se o País vai migrar para um regime de muito, pouco ou até nenhum financiamento externo.
Dessa forma, se as reformas forem aprovadas, possivelmente o fluxo de capitais estrangeiros aumentará e o real se estabilizará em patamar mais apreciado do que hoje e possivelmente abaixo de R$ 3,50 por dólar. Por outro lado, na ausência de reformas ou no caso de uma guinada para um governo populista (sem preocupações com equilíbrio fiscal) a moeda muito provavelmente perderá força, podendo se estabilizar num patamar acima de R$ 4,50 por dólar.