Garanta 40% de desconto
🚨 Mercados voláteis? Descubra joias escondidas para lucros extraordináriosDescubra ações agora mesmo

ENFOQUE-Empresas brasileiras transferem produção ao Paraguai para cortar gastos

Publicado 24.02.2017, 18:58
Atualizado 24.02.2017, 19:00
© Reuters.  ENFOQUE-Empresas brasileiras transferem produção ao Paraguai para cortar gastos

Por Daniela Desantis

HERNANDARIAS, Paraguai (Reuters) - Quando a fabricante de brinquedos Estrela decidiu trocar a China pela América Latina, apostou 2 milhões de dólares em uma nova fábrica, não no Brasil mas no Paraguai.

A unidade, que abre neste mês na cidade fronteiriça de Hernandarias, fica próxima de um parque industrial de 4.500 hectares repleto de empresas brasileiras que fabricam de peças automotivas a roupas.

As scooters elétricas azul-escuras montados por 200 operários na fábrica da Estrela, uma das muitas conhecidas como "maquiladoras", serão enviados pela fronteira mediante um sistema paraguaio que permite grande redução de impostos para exportadores.

Para Carlos Tilkian, executivo-chefe da Estrela, foi uma decisão fácil abrir a fábrica de montagem na nação de 6,8 milhões de habitantes espremida entre Brasil e Argentina.

"O Paraguai tem vantagens competitivas importantes: energia barata, flexibilidade laboral e encargos sociais baixos nos salários", disse em entrevista antes da inauguração da fábrica. "No Brasil, isso seria muito mais caro".

Cada vez mais empresas brasileiras estão indo ao Paraguai desde a eleição do presidente Horacio Cartes em 2013, quando o ex-empresário conduziu a nação à direita, na esteira do impeachment de seu antecessor de esquerda, Fernando Lugo.

Almejando criar empregos, Cartes expandiu uma reforma de 1997 que permitiu que exportadores estrangeiros paguem impostos na faixa de um dígito e os excluem do pagamento de tarifas alfandegárias com medidas adicionais pró-negócios.

Embora mais de 90 por cento dos produtos manufaturados paraguaios sigam para o Brasil, a filiação do Paraguai ao Mercosul também deu a seus exportadores um acesso fácil à Argentina e ao Uruguai.

Anúncio de terceiros. Não é uma oferta ou recomendação do Investing.com. Leia as nossas diretrizes aqui ou remova os anúncios .

Desde a posse de Cartes, o número de indústrias estrangeiras no Paraguai quase triplicou, segundo cifras do governo, também estimulado pela pior recessão brasileira da história. O declínio econômico tem obrigado fábricas a cortar gastos para se manterem à tona em meio às taxas onerosas e à burocracia.

Das 126 indústrias manufatureiras estrangeiras hoje em solo paraguaio, quatro quintos são brasileiras – mas a migração de companhias para o sul está revoltando sindicatos brasileiros.

Anthony Lisboa, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), criticou o sistema das maquiladoras, afirmando que ele se sustenta no trabalho escravo. Ele disse que está tentando congregar a oposição paraguaia, que carece da tradição de trabalho organizado do Brasil.

Empresas e economistas brasileiros dizem que os empregos criados no Paraguai estão substituindo vagas na China, não no Brasil, e que o Brasil se beneficia de um vizinho mais próspero.

"À medida que a China se torna mais cara, torna-se viável para algumas indústrias produzir mais perto de casa, e o Paraguai é perto de casa", argumentou Thomaz Zanotto, diretor de comércio exterior da Fiesp.

"Isso não vai roubar a indústria brasileira – o Paraguai não é grande o suficiente para isso- mas mostra que podemos ser mais competitivos se tivermos políticas econômicas melhores".

QUALIDADE DE VIDA MELHOR

Os moradores de Hernandarias são majoritariamente favoráveis às fábricas brasileiras. A cidade de 80 mil habitantes tem sido ofuscada há tempos por sua vizinha Ciudad del Este, segunda maior do país e sede de um mercado de rua gigantesco em que se vende de perfume contrabandeado a televisões e armas.

Anúncio de terceiros. Não é uma oferta ou recomendação do Investing.com. Leia as nossas diretrizes aqui ou remova os anúncios .

Fabiola Vargas, 22 anos, trabalha numa loja de conveniência e diz que as fábricas oferecem uma opção aos moradores que dependem de empregos de meio período ou informais em Ciudad del Este no momento em que o Paraguai tenta se livrar da reputação de polo de comércio e finanças ilícitos.

"Não teremos que viajar tanto e teremos uma qualidade de vida melhor", disse.

Os brasileiros investiram 101 milhões de dólares no Paraguai em 2015, de acordo com os dados mais recentes do banco central paraguaio, mais de um terço do investimento estrangeiro total de 260 milhões de dólares.

Após ter um crescimento chinês no começo da década, época do boom das commodities, o Brasil testemunha hoje a maior taxa de desemprego da história. Em contraste, o Paraguai viu seu Produto Interno Bruto (PIB) crescer ao menos 4 por cento no ano passado, auxiliado pela expansão do setor manufatureiro.

Eduardo Almeida, representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Paraguai, disse que uma lei de 2015 que garante a empresas estrangeiras que invistam mais de 100 milhões de dólares uma taxa de juros estável por 20 anos propiciou uma estabilidade vital.

A JBS (SA:JBSS3), maior processadora de carne do mundo, disse que a estabilidade no Paraguai foi importante para sua decisão de dobrar a produção no país em 2017 e fez as receitas nacionais aumentarem para 550 milhões de dólares.

"O Paraguai é uma economia que cresce, tem políticas claras e uma política monetária estável", disse seu diretor local, Felipe Azarias, à Reuters.

Anúncio de terceiros. Não é uma oferta ou recomendação do Investing.com. Leia as nossas diretrizes aqui ou remova os anúncios .

No Brasil, ranqueado entre as nações mais caras do mundo para se fazer negócios, os benefícios e os impostos inflam os salários dos trabalhadores em 40 a 60 por cento, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Os custos trabalhistas são em média 45 por cento menores no Paraguai, e ali as companhias pagam impostos médios de cerca de 3,5 por cento – no Brasil são de 36 por cento, comparou Almeida.

O governo de Cartes disse ter criado 21.333 empregos no setor manufatureiro entre agosto de 2013 e dezembro de 2016, gerando 900 milhões de dólares em exportações.

No Paraguai, alguns acadêmicos argumentam que as políticas de Cartes estão privando o país do desenvolvimento de longo prazo, particularmente na infraestrutura.

"Quanto mais exceções e isenções na manufatura, mais privamos o tesouro de algo que os próprios investidores estrangeiros precisam – financiamento para infraestrutura", alertou Fernando Masi, diretor do Centro de Análise da Economia Paraguaia.

Uma fonte de uma grande empresa brasileira de infraestrutura disse que a maioria das empreiteiras do Brasil deixou o Paraguai devido aos temores de que o governo não tenha dinheiro para oferecer apoio ao investimento privado em pontes, represas, aeroportos e outros projetos.

O ministro de Comércio paraguaio, Gustavo Leite, disse que Cartes está comprometido com a política de impostos baixos e não planeja extrair mais renda das empresas brasileiras.

"Se os empregos são tão importantes, por que não cuidaríamos dos empregadores?", disse Cartes na abertura da fábrica da Estrela. "Este é o Paraguai em que acredito: cuidamos daqueles que proporcionam empregos".

Anúncio de terceiros. Não é uma oferta ou recomendação do Investing.com. Leia as nossas diretrizes aqui ou remova os anúncios .

(Reportagem adicional de Caroline Stauffer e Daniel Flynn)

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2024 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.