BRASÍLIA (Reuters) - O publicitário Duda Mendonça fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal e informou aos investigadores que houve o pagamento por meio de caixa dois de despesas da campanha ao governo de São Paulo em 2014 do atual presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), Paulo Skaf, aliado político e do mesmo partido do presidente Michel Temer (PMDB).
Duda havia sido citado em delações feitas por executivos da empreiteira Odebrecht como recebedor de recursos não contabilizados em campanhas eleitorais.
Como sua delação cita também autoridades com foro privilegiado, as acusações feitas pelo publicitário foram remetidas ao STF para que o ministro Edson Fachin decida se homologue as declarações feitas por ele.
Em um trecho de sua delação, o publicitário disse aos policiais que parte dos recursos que recebeu por ter feito a campanha de Skaf foi repassado por meio de caixa 2. Ele afirmou que o acerto de contas, segundo apurou a Reuters com uma fonte da PF, teria sido feito pela empreiteira.
Em nota, a assessoria de imprensa de Skaf disse que todas as doações recebidas pela campanha dele ao governo paulista estão ˜"devidamente registradas na Justiça Eleitoral, que aprovou sua prestação de contas sem qualquer reparo".
"Paulo Skaf nunca pediu e nem autorizou ninguém a pedir qualquer contribuição de campanha que não as regularmente declaradas", afirma a nota.
Skaf terminou aquela disputa eleitoral em segundo lugar, ocasião em que foi reeleito em primeiro turno o governador Geraldo Alckmin (PSDB). O presidente da Fiesp foi um dos principais defensores no meio empresarial ano passado do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Duda foi marqueteiro da primeira campanha vitoriosa do PT ao Palácio do Planalto em 2002, quando elegeu Luiz Inácio Lula da Silva. Três anos depois, durante o escândalo do mensalão, confessou durante uma CPI do Congresso ter recebido caixa 2 no exterior como pagamento pela campanha de Lula. Em 2012, entretanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu-o dos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas no julgamento do mensalão.
Por meio de advogados, Duda tentou desde o ano passado fazer delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), mas as negociações não avançaram. Os defensores dele decidiram, então, procurar a Polícia Federal em Brasília para que ele confessasse crimes. A PGR não quis se pronunciar.
Esta semana, Fachin homologou as delações premiadas do marqueteiro João Santana da mulher dele, Mônica Moura, e de um funcionário do casal, André Santana. Santana fez o marketing das campanhas à reeleição de Lula em 2006 e as vitoriosas de Dilma em 2010 e de 2014.
(Reportagem de Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu)