Por Brad Brooks
CURITIBA (Reuters) - Há semanas seu depoimento possivelmente arrasador sobre o maior escândalo de corrupção do Brasil é o principal assunto das conversas sobre política no país, rendendo incontáveis páginas em jornais e revistas.
Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que leva o nome de sua família e é a maior da América Latina, estaria prestes a se tornar um delator da operação Lava Jato, segundo diversas reportagens em tom alarmista, e irá oferecer o maior dos prêmios: uma confissão sobre os milhões de reais canalizados em doações de campanha ilegais para a presidente afastada Dilma Rousseff.
Só há um problema, segundo Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais procuradores federais da investigação sobre o esquema bilionário de corrupção: nada do que foi dito acima é verdade.
"Marcelo Odebrecht nunca disse uma palavra a nós, não conversou com nenhum promotor sequer", afirmou Lima à Reuters em seu escritório em Curitiba. "É um mistério, estas reportagens que tenho lido dizendo que Marcelo fechou algum acordo com os promotores. Ele não chegou nem perto disso."
Enquanto Dilma, que nega quaisquer irregularidades e não foi acusada pessoalmente de corrupção, luta para se manter viva politicamente no momento em que o Senado julga o pedido de impeachment motivado por supostos crimes de responsabilidade fiscal, a força motriz da intensa turbulência política brasileira é a Lava Jato, que em mais de dois anos já levou dezenas de executivos e políticos para a prisão devido às acusações de pagamentos de propinas bilionárias.
No centro de tudo está a Odebrecht, construtora que tem 15 divisões em duas dúzias de países, 130 mil empregados e a responsabilidade pela maior parte das obras da Olimpíada do Rio de Janeiro de 2016.
Se os executivos da empresa decidirem contar tudo, poucas pessoas duvidam que a maior parte do establishment político irá cair, já que muitos de seus membros foram apontados em documentos apreendidos na empreiteira como supostos beneficiários de propinas.
Lima afirmou não saber "quem está vazando esse falso 'depoimento' de Marcelo, mas acho que vem tanto de pessoas que estão tentando ajudá-lo, quanto prejudicá-lo, aqueles que podem ser expostos por qualquer depoimento que ele possa vir a dar".
Isso aumenta significativamente o clima de intriga cercando o ex-chefão do Grupo Odebrecht, que hoje cumpre uma pena de 19 anos de prisão por acusações de corrupção.
Em seu escritório de Curitiba, cidade em que policiais federais, promotores e o juiz Sérgio Moro vêm conduzindo a Operação Lava Jato de forma incansável, Lima disse ver duas possibilidades no caso de Marcelo.
"Ou alguém está tentando forçar um acordo conosco, o que simplesmente não irá funcionar, ou, o que é ainda mais hipócrita, alguém está divulgando informações falsas na esperança de que isso destrua qualquer acordo, na esperança de que Marcelo fique quieto."
Uma porta-voz da Odebrecht, que não quis sequer dizer quem é o representante legal de Marcelo Odebrecht no momento, afirmou em um e-mail que não tem comentários sobre as declarações de Lima.
Desde sua prisão, em junho de 2015, Marcelo Odebrecht, que transformou a empresa familiar na maior empregadora do país e um dos cinco maiores grupos do setor privado, vem mantendo uma postura desafiadora.
Antes de sua condenação, ele chegou a dizer a uma CPI que, como pai, ficaria mais aborrecido com uma de suas filhas que dedurasse a outra do que com aquela que tivesse feito algo errado, insinuando que jamais seria um delator.
Mas em agosto, o pai de Marcelo, Emílio, ex-presidente do conglomerado, supostamente aconselhou o filho a testemunhar para minimizar as perdas financeiras da empresa.
Em março, investigadores disseram ter descoberto uma lista com os nomes de 300 autoridades e outras pessoas com informações de recursos pagos a elas, totalizando dezenas de milhões de dólares. Ainda não sabe quanto desses recursos seriam para propina e quanto seriam doações legais de campanha.
Após a divulgação dessa notícia, a empresa disse que estava disposta a cooperar com os investigadores.
Além dos acordos de delação premiada com indivíduos, procuradores assinaram cinco acordos de leniência com empresas, que dariam informações em troca de sentenças mais leves. Os procuradores não informaram quais empresas fecharam esse tipo de acordo, mas a Odebrecht não é uma delas.
Lima admitiu que a Odebrecht pode, em tese, fornecer a maior quantidade de informações, dado o tamanho da empresa e suas ligações profundas com políticos de todo o espectro partidário. Mas ele também disse que, de forma alguma, existe a certeza de que qualquer pedido de leniência da construtora será aprovado.
"Temos uma vaga ainda, só mais uma empresa terá um acordo de leniência conosco", afirmou, levantando o dedo indicador para enfatizar sua fala. "Talvez seja a Odebrecht, talvez não. Depende inteiramente de quem nos trouxer informações novas e concretas que possamos usar."