Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de iniciar o dia com ministros e o presidente Michel Temer confirmando que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, iria se filiar ao MDB e deixar o ministério nos próximos dias, o Palácio do Planalto encerrou a tarde com o próprio presidente voltando atrás e confirmando apenas que "existem conversas".
O principal envolvido, o ministro da Fazenda, negou, em Porto Alegre, que já tenha se decidido e que a conversa com Temer, no final de semana, tenha sido definitiva. Ao ser questionado, afirmou que decidiria na semana que vem.
Mais cedo, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, confirmara à Reuters a filiação de Meirelles ao MDB e sua saída do ministério. À noite, Padilha voltou atrás. "A verdade é que ainda não há definição."
Temer, por sua vez, em reportagem publicada no site do jornal O Estado de S. Paulo, confirmou a saída de Meirelles dizendo que já era sua intenção e que isso foi "acertado nos últimos dias". Mais tarde, após participar de evento em São Paulo, mudou o discurso.
"Eu e o ministro Meirelles consideramos as várias hipóteses no final de semana. Não havia ainda exatamente uma decisão, mas consideramos a hipótese da sua saída", disse Temer a jornalistas.
Mais importante, o próprio Meirelles negou que a situação esteja resolvida.
"Devo anunciar uma decisão no inicio da semana que vem, se de fato eu devo sair do ministério para disputar o mandato eleitoral ou se fico no ministério até o final desse ano", afirmou a jornalistas, depois de participar de evento em Porto Alegre.
O ministro vem negociando a filiação ao MDB há várias semanas, desde que ficou claro que seu partido, o PSD, lhe negaria a legenda para ser candidato à Presidência.
OPÇÃO ECONÔMICA
De acordo com apurações da Reuters, a decisão do ministro deixar o cargo e se filiar ao MDB teria sido tomada depois de dois dias de conversa entre Temer e Meirelles, na viagem em que o ministro acompanhou o presidente ao Nordeste, na sexta-feira, e depois no sábado, no Jaburu.
Ambos teriam falado da filiação, da possibilidade de Meirelles compor uma chapa com Temer, e dos nomes para substituir Meirelles.
Segundo uma fonte palaciana, a conversa teria avançado, com ambos afirmando que gostariam de ser os candidatos à Presidência e Meirelles abrindo a possibilidade de assumir a cabeça de chapa, mais tarde, no caso de Temer --que tem até julho para decidir se será candidato-- desistir da candidatura.
Apesar de cada vez mais o presidente insistir que deve ser candidato --tendo dito até, em entrevista à revista Isto É que seria uma "covardia" não se candidatar-- Temer enfrenta uma resistência dentro do próprio partido. Candidatos a deputado e a governador não veem com bons olhos a ideia de pôr no palanque um presidente com mais de 70 por cento de rejeição.
Além disso, uma candidatura presidencial levaria o partido a ter que dividir os recursos, este ano mais escassos com a proibição de financiamento eleitoral privado, com uma campanha nacional cara e com poucas chances de sucesso. Fontes emedebistas disseram à Reuters que ao menos Meirelles poderia financiar a própria campanha.
Em conversa com a Reuters, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, contou que em uma reunião com a bancada emedebista no Congresso a ida de Meirelles para o partido, seja para ser candidato a presidente ou compor a chapa com Temer "foi muito bem-vinda". "Eu repassei o recado ao presidente", disse Marun.