Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inédita decisão de intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro está dividindo opiniões de especialistas, representantes das polícias e da própria população local.
O decreto para a intervenção federal foi assinado nessa sexta-feira após intensas negociações nas últimas horas entre os governos federal e estadual. O acordo veio após uma onda de violência no Estado que começou ainda em 2016, quando o Rio de Janeiro decretou calamidade financeira, se agravou em 2017, ano em que os casos de roubos de cargas, balas perdidas e mortes de policiais avançaram e atingiu o ponto máximo durante o Carnaval deste ano.
Nos dias de folia, quando mais de 6 milhões de pessoas, sendo um quarto de fora do Rio, brincavam nos quase 500 blocos autorizados, cenas de arrastões, brigas, assaltos, tumultos no metrô, invasão a aeroporto, mortes e balas perdidas colocaram o problema da criminalidade no Rio de Janeiro ainda mais sob os holofotes.
Para o presidente da Associação dos Policiais Militares do Rio de Janeiro, Fernando Belo, a situação da violência no Estado exige uma atuação mais dura.
“É triste a situação em que o Rio chegou, mas a intervenção é esperança de que as coisas possam se resolver mesmo que tardiamente”, disse ele à Reuters.
Para Belo, é preciso estancar a morte de inocentes no Rio de Janeiro por bem ou por mal.
“Pode haver um banho de sangue (com a intervenção), acredito que sim, mas às vezes para se ter paz é preciso derramar sangue, não de inocentes, mas dos bandidos que assolam o Estado de forma impiedosa", acrescentou.
Já Fernando Bandeira, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro, é totalmente contra a intervenção e considera que a medida remete ao período da ditadura militar.
“Isso é uma imposição, parece que voltamos aos tempos da ditadura. A solução não está aí”, avaliou.
Os dois representante de classe concordam em um ponto: que para melhorar a segurança no Estado é preciso retomar investimentos, capacitação e diminuir a defasagem de policiais nos quadros da Polícia Militar e da Polícia Civil.
O especialista em segurança, Paulo Storani, ex-subcomandante do Bope, tropa de elite da PM do Rio de Janeiro, discorda da intervenção na segurança do Estado e defende um esvaziamento das Unidades de Polícia Pacificadora (são quase 40 ), para aumentar o efetivo nas ruas do Rio de Janeiro
“Por que achar que uma intervenção vai dar certo se o governo federal não consegue fazer o seu próprio dever de casa? Eles não controlam fronteiras secas e molhadas do país, não têm acordos diplomáticos com os países vizinhos para evitar entrada de armas e drogas”, disse ele à Reuters
“Não se deve esperar grandes prisões e apreensões até porque vão atuar em áreas desconhecidas e não tem a capacitação para essas ações... o ideal seria liberar homens hoje destacados para UPPs para atuar nas ruas. Já passou da hora de admitir a ineficiência das unidades e desmobilizá-las”, acrescentou.
Nas ruas, as opiniões estão dividas.
“Acho temerário e pode ser uma jogada política, parece mais um paliativo“, disse o servidor público Alan Souza.
Já o advogado Luiz Fernando Almeida está mais otimista com a intervenção. "O Rio de Janeiro quebrou, acabou, tem que tentar algo mesmo. As pessoas estão com medo de sair de casa e isso não pode continuar", disse.
O governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (MDB), disse à Reuters que aceitou a intervenção porque esse lhe parece ser o único caminho para o Rio vencer a criminalidade.
“A violência se alastrou muito, e só com intervenção e integração vamos conseguir vencer essa quantidade absurda de armas no Rio”, disse. “Estou pensando na população e preocupado com ela.”