Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Pouco mais de uma semana depois da eleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, o governo brasileiro não tem ainda indícios do que deve ser a política do republicano para a América Latina e teme uma nova onda de protecionismo, mas mantém a política de "esperar para ver", disseram à Reuters fontes diplomáticas.
Em um documento preparado para o ministro das Relações Exteriores, José Serra, diplomatas apontaram como cenário mais provável com uma vitória de Trump um aumento do nacionalismo norte-americano, com crescimento do protecionismo, aumento em investimentos em defesa e maior dificuldade em programas de transferência de tecnologia, já notoriamente complicados.
Um diplomata ouvido pela Reuters, no entanto, lembra que o Brasil não tem qualquer tipo de acordo de livre-comércio com os Estados Unidos. A atual administração ensaiava tentar aumentar parcerias, o que deve ser dificultado agora.
"Trump vem com uma agenda nativista, como eles dizem. Isso não é bom para um país como o Brasil, que depende muito das exportações para os Estados Unidos, mas é ainda pior para outros países, como China e México", disse um diplomata de alto escalão.
Cerca de 30 por cento das exportações atuais brasileiras vão para os Estados Unidos. O percentual já foi maior, mas a política dos governos petistas de ampliar o leque de parceiros diminuiu um pouco a dependência.
Ainda assim, avalia um outro diplomata, o Brasil não está no radar imediato de Trump, o que pode não ser ruim. Permitiria manter a relação como está, mesmo que sem grandes avanços.
Uma perda, no entanto, o Brasil pode contar: a aproximação feita recentemente na área de defesa, inclusive com um encontro entre representantes da indústria dos EUA e brasileira, em Brasília, dificilmente será levada adiante.
"Já existe uma enorme dificuldade da parte do Congresso americano em autorizar a transferência de tecnologia. Isso estava sendo trabalhado, mas agora dificilmente irá adiante", disse um outro diplomata.
Em entrevista ao programa Roda Viva, na última segunda-feira, o presidente Michel Temer manifestou a esperança de que, com os problemas que Trump possivelmente terá com o México, seu vizinho latino-americano mais próximo, o novo presidente americano pudesse se aproximar do Brasil.
"Isso tudo pode redimensionar, portanto, talvez, diminuir a relação dos Estados Unidos com o México, e quando ele voltar os olhos para a América Latina é muito possível que venha a prestigiar as relações Brasil-Estados Unidos", disse o presidente.
A análise é vista com ceticismo pelo Itamaraty. "Dificilmente haverá um aumento de interesse pela América Latina em um governo Trump", disse um diplomata.
A política externa proposta por Serra, no entanto, prega uma reaproximação com velhos parceiros, especialmente os Estados Unidos. O embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, tem tentado contado com a equipe de transição de Trump.