Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Líderes da Câmara dos Deputados preferiram o tom de cautela nesta segunda-feira, enquanto aguardam a esperada denúncia a ser oferecida até a terça-feira contra o presidente Michel Temer pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Mesmo entre representantes da oposição, o compasso é de espera e a orientação é aguardar o conteúdo e a consistência das acusações que virão à tona.
"O Democratas aguarda o conteúdo da denúncia e a consistência das provas a seres apresentadas pelo procurador-geral, não adianta trabalhar em cima de hipóteses", disse o líder do DEM na Casa, deputado Efraim Filho (PB).
"Temos evitado nos precipitar em atitudes que aumentem a instabilidade no Brasil, o qual é maior do que pessoas, do que nomes, do que partidos", acrescentou.
O líder do PSDB seguiu o mesmo curso, e não quis elaborar comentários sobre a provável denúncia.
"Nós não temos informação sobre que material vai chegar, se a denúncia será única, ou fatiada, se ela é robusta", explicou, defendendo que ela seja tratada sem "açodamento", conferindo os prazos regimentais tanto para a acusação quanto para a defesa.
Até mesmo o líder da Minoria na Casa, deputado José Guimarães (CE), adotou um tom cauteloso e preferiu não se manifestar sobre um conteúdo ainda desconhecido.
"Primeiro tem que esperar chegar", disse à Reuters.
Guimarães já deu indicativos, no entanto, de como a oposição deve se portar: defendeu que os prazos regimentais sejam rigorosamente seguidos.
"Se chegar ( a denúncia) eu concordo que tem que seguir regras regimentais. Nem se atropela para servir ao governo e nem para nós (oposição)", afirmou. "O Brasil já sangrou, o governo já teve o choque anafilático, já foi para o brejo. Um dia a mais, um dia a menos não vai adiantar, não pode atropelar o regimento."
Janot deve oferecer denúncia contra Temer até terça-feira, dia em que encerra o prazo legalmente previsto para que Janot faça a acusação formal ao STF ou requeira o arquivamento do caso, que tem por base as delações de executivos da J&F, controladora da JBS (SA:JBSS3).
Uma vez apresentada, a denúncia deve ser encaminhada à Câmara dos Deputados e só tem continuidade se a Casa autorizar seu andamento com o apoio de pelo menos 342 deputados.
Interessa ao governo e a aliados analisar --e rejeitar-- rapidamente a denúncia, para retomar a agenda econômica e tocar o plano de imprimir um clima de normalidade no Legislativo.
Governistas reconhecem, inclusive, a possibilidade de não haver recesso parlamentar justamente para evitar a interrupção da análise da denúncia e encerrar este capítulo.
Mas Guimarães lembra que a tentativa de fazer os deputados permanecerem em Brasília durante o recesso pode irritá-los e funcionar como "um tiro no pé".
A avaliação é que Temer tem entre 250 e 300 votos para barrar a denúncia, isso se não ocorrer nenhum outro fato novo com poder de minar o já fragilizado governo.