BERLIM (Reuters) - A chanceler alemã, Angela Merkel, que prometeu continuar no cargo apesar dos desafios dentro e fora de casa, disse que trabalhará na relação "sob pressão" da Alemanha com os Estados Unidos, mas que não é mais possível esperar que Washington se encarregue da ordem mundial.
Em uma coletiva de imprensa abrangente, Merkel descreveu o relacionamento alemão com os EUA como "crucial", mesmo depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, ter acusado Berlim na semana passada de ser "refém" da Rússia devido à sua dependência energética.
Merkel, de 64 anos, está sendo alvo de críticas em casa e no exterior enquanto tenta manter uma coalizão fragmentada, assolada por disputas internas derivadas da política imigratória, e ao mesmo tempo lidar com Trump e uma série de desafios de política externa, incluindo a desfiliação britânica da União Europeia, conhecida como Brexit.
Na semana passada Trump disse que a Alemanha erra ao apoiar um gasoduto de 11 bilhões de dólares no Mar Báltico para importar ainda mais gás russo enquanto mostra lentidão em cumprir a meta de gastos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – uma decisão que descreveu como "uma coisa horrível".
Indagada sobre seu relacionamento de trabalho com Trump, Merkel respondeu: "Pode-se dizer que os valores, ou nossa estrutura normal, estão sob forte pressão no momento".
"Entretanto, o relacionamento de trabalho transatlântico, inclusive com o presidente dos EUA, é crucial para nós, e continuarei cultivando-o", acrescentou.
Merkel, conservadora que cresceu na Alemanha Oriental comunista, elogiou o fato de Trump ter convidado o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para visitá-lo em Washington no outono local e disse que deveria voltar a ser normal os dois líderes se reunirem.
Mas ela acrescentou que teve razão ao dizer, um ano atrás, que a Europa não pode mais esperar que os EUA imponham ordem no mundo e que o continente precisa se encarregar das questões que o tocam diretamente.
"Não podemos contar com o superpoder dos Estados Unidos", afirmou a chanceler, descrevendo as possíveis tarifas norte-americanas a carros importados como "uma verdadeira ameaça à prosperidade de muitos no mundo".
(Reportagem de Riham Alkousaa, Michelle Martin, Thomas Escritt e Paul Carrel)