Por Philip Pullella
A BORDO DO AVIÃO PAPAL (Reuters) - O papa Francisco defendeu no sábado a estratégia de evitar o termo "rohingya" em Mianmar, acreditando ter enviado sua mensagem às lideranças civil e militar do país sem interromper o diálogo.
Falando a repórteres a bordo do avião que o trazia de volta à Roma vindo de Bangladesh, o pontífice também indicou ter sido firme com os líderes militares de Mianmar em reuniões privadas sobre a necessidade de respeitar os direitos dos refugiados rohingya.
Ele também revelou ter chorado ao conhecer um grupo de refugiados rohingya na sexta-feira em Bangladesh, onde defendeu seus direitos em uma reunião emotiva.
"Para mim, o mais importante é que a mensagem seja recebida, dizer uma coisa de cada vez e escutar as respostas”, disse.
"Eu sabia que se tivesse usado aquela palavra nos discursos oficiais, eles teriam nos fechado as portas. Mas (em público) descrevi situações, direitos e disse que ninguém deveria ser excluído do direito à cidadania, a fim de permitir ir mais longe nas reuniões privadas", disse ele.
Francisco não usou a palavra rohingya em público durante a primeira etapa da viagem em Mianmar. País predominantemente budista. Mianmar não reconhece os rohingya, majoritariamente muçulmanos, como um grupo étnico com sua própria identidade, mas como imigrantes ilegais de Bangladesh.
As autoridades locais da Igreja Católica Romana aconselharam o papa a não pronunciar a palavra, pois poderia desencadear uma reação contra os cristãos e outros grupos minoritários.
O papa se reuniu com os líderes militares de Mianmar em particular na segunda-feira, pouco depois de sua chegada à maior cidade do país, Yangon.
A reunião estava programada para a manhã de quinta-feira, mas os militares sugeriram, no último minuto, que fosse adiada. O resultado foi que eles viram o papa antes dos líderes civis, em vez do contrário, como foi planejado.
"Foi uma boa conversa e a verdade não foi negociável", disse ele sobre o encontro com os líderes militares.
O último êxodo de Mianmar para Bangladesh, de cerca de 625.000 pessoas, ocorreu devido a uma repressão militar de Mianmar em resposta a ataques de militantes rohingya contra uma base do Exército e postos de polícia em 25 de agosto.
De acordo com os refugiados, diversas aldeias rohingya foram incendiadas, pessoas foram mortas e mulheres estupradas. Os militares negam as acusações de limpeza étnica feitas pelos Estados Unidos e pela Organização das Nações Unidas (ONU).