Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - A Polícia Federal realizou nesta quinta-feira a 36ª fase da operação Lava Jato que tem como alvo operadores financeiros do esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) e cumpriu mandados de busca e apreensão em São Paulo, Ceará e Paraná.
Também foram emitidos mandados de prisão preventiva contra o empresário Adir Assad, que já está preso pela Lava Jato e foi condenado a 9 anos e 10 meses de prisão em uma ação penal ligada à operação, e contra o advogado Rodrigo Tacla Duran, que está fora do país desde abril.
Segundo o delegado da PF Igor Romário de Paula, Duran está na lista dos procurados pela Interpol desde setembro, mas até agora somente as autoridades tinham acesso a essa inclusão.
"São apuradas as práticas, dentre outros crimes, de corrupção, manutenção não declarada de valores no exterior e lavagem de dinheiro", disse a PF em nota.
A nova fase foi denominada "operação Dragão", em referência ao nome dado por um dos investigados aos negócios fechados para disponibilizar recursos ilegais no Brasil oriundos de pagamentos no exterior, disse a PF, acrescentando que cerca de 90 policiais estão nas ruas cumprindo os mandados.
Segundo o Ministério Público, empreiteiras investigadas na Lava Jato repassaram cerca de 34,6 milhões de reais para empresas controladas por Duran para o pagamento de propinas. Outras empresas que também firmam contratos com o setor público também depositaram, segundo o MPF, 18 milhões de reais em contas controladas pelo advogado no exterior.
Assad, segundo comunicado do Ministério Público, repassou 27,2 milhões de reais para Duran e pessoas ligadas ao advogado por meio de transferências de contas mantidas por suas empresas em território nacional.
"Há evidências de que esses operadores fizeram da lavagem de dinheiro a sua profissão", disse o procurador da República Júlio Noronha.
Segundo o MPF, provas obtidas em fases anteriores da Lava Jato, informações obtidas por meio da quebra de sigilos e dadas por meio de acordos de delação premiada com executivos envolvidos na Lava Jato apontaram que Assad e Duran "participaram ativa e continuamente do grande esquema criminoso de corrupção investigado pela força-tarefa" e confirmaram a natureza do dinheiro repassado a eles.
Durante as investigações, o Ministério Público e a Polícia Federal também detectaram a transferência de milhões de reais da Triunfo Partricipações e de empresas controladas para o escritório de advocacia de Duran.
"Não é possível ainda formar juízo de valor sobre essas transações", disse o procurador Roberson Pozzobon, também da força-tarefa da Lava Jato.
A Triunfo informou em comunicado ao mercado que a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da companhia, em São Paulo, e em sua subsidiária Econorte, em Londrina, e que a empresa "forneceu as informações solicitadas e irá cooperar com as autoridades".
A empresa disse ainda que sua administração buscará "tomar conhecimento das alegações que embasaram referida ordem judicial".
O advogado de Assad, Miguel Pereira Neto, criticou o que chamou de exageros da Justiça e disse que seu cliente não descumpriu os requisitos de uma prisão domiciliar que havia sido decretada anteriormente. Ele afirmou ainda que não há requisitos para a prisão preventiva desta quinta. Assad também é citado em outras operações da PF.
"Não havia nenhum tipo de descumprimento que pudesse ensejar o retorno ao regime fechado", disse. "Agora vem essa nova prisão, sobre a mesma conduta, sobre fatos pretéritos. Ou seja, não preenche os requisitos de uma prisão preventiva. E esse prende e solta, é praticamente uma tortura."
Pereira Neto disse que buscará tomar conhecimento da nova acusação contra seu cliente para tentar a revogação da prisão.
As tentativas de contato com o escritório de advocacia de Duran não tiveram resposta.
(Por Eduardo Simões)