(Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta sexta-feira em entrevista à GloboNews que não vê motivos para o pedido de impeachment do presidente Michel Temer após partidos da oposição anunciarem que protocolarão esse pedido na segunda-feira.
Parlamentares da oposição afirmam que basearão o pedido no depoimento dado à Polícia Federal pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero no qual afirmou que Temer o pressionou para encontrar uma "saída" para atender a interesses pessoais do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima.
"Apesar de não ter ouvido ainda a tal gravação que o ex-ministro Calero fez do presidente da República, um fato grave, não vejo nenhum motivo para a gente pensar em impedimento do presidente Temer, de forma nenhuma", disse Maia em entrevista à emissora em Curitiba.
"Acho que não há nenhum indício, nada perto disso, nesse momento. É óbvio que todos nós respondemos por nossos atos como governantes, o presidente Michel Temer responde pelos dele, mas eu tenho muita convicção e acho que é muito prematuro lançar um tema como esse, de um novo impedimento, no momento que o Brasil vive, de uma crise grave", afirmou.
Maia se referiu a uma suposta gravação que Calero teria feito de uma conversa com Temer, assim como diálogos com Geddel e com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Como presidente da Câmara, cabe a Maia, que tem sido um aliado de primeira hora de Temer desde que chegou ao comando da Casa, decidir se dá ou não andamento a um pedido de impeachment contra o presidente.
Calero, que pediu demissão do governo na semana passada, disse no último fim de semana que Geddel o pressionou para liberar a obra de um empreendimento imobiliário em Salvador, que havia sido embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no qual Geddel havia comprado um apartamento.
Posteriormente, em depoimento à Polícia Federal cujo teor foi confirmado à Reuters por uma fonte com conhecimento do assunto, Calero afirmou que o próprio Temer também o pressionou para que encontrasse uma "saída" para encaminhar o caso à Advocacia-Geral da União (AGU) que teria uma solução para o impasse. Ainda de acordo com o depoimento de Calero, Temer afirmou que o episódio havia irritado Geddel e gerado dificuldades a seu governo.
Geddel reconheceu em entrevista à Reuters no fim de semana que conversou com Calero sobre o empreendimento em Salvador, mas negou que tenha pressionado o então titular da Cultura.
Temer também negou as acusações, afirmando, por meio do porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, estranhar as declarações de Calero. O presidente afirmou que buscava mediar uma disputa entre dois de seus ministros.
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)