Por Alexandre Caverni
SÃO PAULO (Reuters) - O PSDB foi o grande vencedor do segundo turno das eleições municipais confirmando o ótimo desempenho mostrado na primeira rodada de votação e garantindo uma forte liderança nas capitais do país.
A performance tucana ocorreu numa eleição que desmentiu os prognósticos de uma grande renovação, ainda que algumas novidades tenham surgido.
Depois de ter conquistado a maior cidade do país no início do mês, com a inédita vitória em primeiro turno de João Doria em São Paulo, os tucanos venceram neste domingo as disputas em Porto Alegre, Belém, Maceió, Manaus e Porto Velho. Já haviam ganhado também em Teresina no dia 2.
O grande sucesso do PSDB no pleito deste ano, no entanto, deixou um gosto amargo na boca do presidente nacional do partido, o senador mineiro Aécio Neves, que viu o candidato tucano em Belo Horizonte, João Leite, ser derrotado por Alexandre Kalil, do nanico PHS. [nL1N1D00O0]
O campeão geral de prefeituras conquistadas neste ano, como sempre, o PMDB, ficou em segundo lugar na disputa nas capitais, ganhando em Goiânia, Florianópolis e Cuiabá neste domingo, depois de conquistar Boa Vista no primeiro turno.
Com três capitais, o PDT ocupa o terceiro lugar no novo ranking, seguido por PSB e PSD com duas capitais cada um.
Outros oito partidos irão comandar uma capital a partir de 2017, com destaque negativo para o PT, que conseguiu apenas a reeleição do prefeito de Rio Branco, já no primeiro turno.
NOVIDADES, COM MUITA CONTINUIDADE
As duas maiores cidades que tiveram disputa neste domingo trouxeram novidades, ainda que no Rio de Janeiro ela não tenha se dado pelo nome vencedor, mas sim pelo fato de ele finalmente ter vencido.
O senador Marcelo Crivella, do PRB, foi eleito prefeito do Rio com folga contra Marcelo Freixo, do PSOL. Sobrinho de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella é bispo da igreja.
"Sempre chega a nossa vez quando não se desiste", disse o senador, que já tinha sido candidato a prefeito e governador duas vezes, após a confirmação da vitória. "Peço a Deus e a todos nós que possamos ter a esperança dos que sempre lutam e a fé dos que nunca desistem."
Em Belo Horizonte, o prefeito eleito, Alexandre Kalil, também se disse recompensado após uma dura disputa.
"As noites que eu chorei no meu quarto com a minha mulher porque eu fui tão ofendido, valeram a pena", disse. "Eu estou meio na linha do que o Gandhi falou: 'primeiro, eles desprezam, depois ignoram, depois agridem e no final perdem'. Estou tranquilo, sei da responsabilidade que nós vamos assumir."
Mas para quem esperava muita renovação, especialmente diante do quadro de denúncias permanentes contra políticos e partidos, a eleição foi pouco animadora.
Nada menos do que 15 das 26 capitais tiveram prefeitos reeleitos, sendo 8 neste domingo.
O resultado mostrou o que alguns especialistas previam, dada as mudanças das regras que encurtaram a campanha eleitoral e proibiram o financiamento empresarial. Neste quadro, a estrutura partidária ou a detenção da máquina administrativa foi crucial para a vitória de muitos candidatos. [nL2N1C40SZ]
De fato, foram pouquíssimas as tentativas de reeleição que fracassaram, a mais significativa delas a do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT.
Mas a derrota de Haddad, que viu o candidato do principal partido adversário levar já no primeiro turno, tem que ser debitada em boa medida à debacle do partido, afogado nas contínuas denúncias, prisões e condenações decorrentes da operação Lava Jato.
O desastroso desempenho do PT no primeiro turno, quando conseguiu menos da metade das vitórias obtidas há quatro anos, foi ainda pior neste domingo, quando perdeu nas sete cidades que disputou, aí incluída Recife, única capital em jogo para o partido.
TRANQUILIDADE
Os eleitores que foram às urnas nas 57 cidades do país que realizaram o segundo turno neste domingo encontraram tranquilidade para votar, inclusive em locais de votação dentro de escolas que estão ocupadas por estudantes em protesto contra a reforma educacional.
Eleitor da capital paulista, o presidente Michel Temer não votou neste domingo uma vez que o pleito na cidade foi resolvido já no primeiro turno com vitória de Doria.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que não votaria, uma vez que o candidato do PT em São Bernardo do Campo (SP), Tarcísio Secoli, ficou fora da disputa final ao terminar em terceiro no primeiro turno. Com mais de 70 anos, o ex-presidente não é mais obrigado a votar.
Também não votou a ex-presidente Dilma Rousseff. Com domicílio eleitoral em Porto Alegre, a petista viajou a Belo Horizonte para visitar a mãe, segundo sua assessoria.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, comemorou o clima pacífico do pleito.
“Não tivemos incidentes dignos de nota e felizmente nossa preocupação com segurança não se realizou”, disse.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)