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'Acabou a brincadeira!' PM dá rasteira em mulher durante prisões no Planalto

Publicado 13.01.2023, 19:00
© Reuters.  'Acabou a brincadeira!' PM dá rasteira em mulher durante prisões no Planalto

Era por volta das 17 horas quando os homens de preto da tropa de choque da Polícia Militar do Distrito Federal entraram no segundo andar do Palácio do Planalto. Ali estava um grupo de extremistas com suas camisas verde e amarelas e roupas camufladas. Uns poucos traziam bandeiras do Brasil. A tropa do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), do Exército, - todos com equipamento de controle de ditúrbios civis - fazia uma barreira para impedir que os detidos voltassem para os andares superiores do prédio. Foi quando um militar do BGP começou a filmar a cena com seu celular. É a este vídeo que o Estadão teve acesso.

Os extremistas estavam ainda dispersos e de pé. Um deles tentava convencer os militares do Exército: "Você precisa nos ajudar!" As palavras ficaram suspensas no ar do imenso salão, em meio ao alvoroço da multidão. De repente, uma voz de comando se faz ouvir: "Senta! Senta todo mundo!" O burburinho continua. Os extremistas hesitam por alguns instantes até que a mesma voz dá uma nova ordem: "Cala a boca! Cala a boca! Ninguém fala aqui!"

Nesse momento, um outro PM caminha em meio ao grupo de extremistas. "Acabou, acabou a brincadeira. Abaixa a mão!" E caminha com uma vara em dois extremistas. É quando uma mulher com a camisa da seleção se levanta cambaleante. "Tem uma mulher que está passando mal aqui", alerta um soldado. Quando ela se aproxima do comandante da tropa, o policial ordena aos subordinados: "Algema. Vai algemada." De imediato, os PMs dão uma rasteira na mulher, que a joga no chão, diante dos gritos de protestos dos demais detidos, que pedem ajuda ao Exército - um oficial do BGP vai então conversar com os PMs. Segundos depois, a mulher se levanta algemada e é conduzida pelo policial.

A cena toda dura cerca de 1 minuto e 30 segundos. Ela é um dos vídeos de que o Exército dispõe sobre a atuação dentro do Palácio do Planalto. E só foi divulgado pelos militares depois que PMs publicaram outro vídeo em que o coronel Paulo Jorge Fernandes, comandante do BGP, é contido por um PM. Na interpretação dos PMs, o oficial tentava permitir a fuga dos extremistas detidos, enquanto os policiais estavam ali para prendê-los. Na versão do Exército, o vídeo que mostra o coronel foi editado para comprometer o oficial, que apenas tentava conter excessos praticados durante as prisões. Uma manifestante idosa detida chegou a acusá-lo: "Você é um traidor".

Também na versão dos PMs, os militares do Exército estavam desorientados, sem saber o que fazer. Oficiais do Exército ouvidos pelo Estadão negam e dizem terem sido eles os responsáveis pelas prisões e desocupação dos quarto e terceiro andares do Planalto, antes da chegada dos PMs, que foram convocados pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Na quinta-feira, o general Marco Edson Gonçalves Dias, ministro-chefe do GSI, afirmou ao site Metrópoles que foi dele a ordem para prender os extremistas que invadiram a sede do Poder Executivo. Vídeos encontrados pelo Estadão mostram que a ação toda foi premeditada.

Outro fato polêmico envolvendo a operação de retomada do Palácio do Planalto foi a fuga da extremista Ana Priscila Azevedo. Quando os golpistas invadiram o lugar, depredando e destruindo o que viam pela frente, militares do Exército chegaram a deter Priscila, uma das principais lideranças do movimento criminoso identificadas até agora. Porém, a radical não figurou na lista de presos no prédio. Ela organizou caravanas até Brasília e aparece em vídeo sentada e rodeada pelos militares do Exército. Como mostrou o Estadão, nas imagens, ela comemora, sem nada dizer e apenas fazendo gestos militares, o resultado da invasão. Dois dias depois, ela foi localizada e presa pela Polícia Federal por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), em Luziânia (GO).

O Estadão revelou ainda que o Comando Militar do Planalto (CMP) decidiu abrir um Inquérito Policial-Militar (IPM) para apurar a ação do BGP durante a retomada do Palácio, em poder dos extremistas. Também abriu um IPM para apurar a conduta do coronel da reserva Adriano Camargo Testoni, que participou dos eventos do dia 8, chamados pelos extremistas de "tomada do poder". Testoni divulgou vídeos ofendendo o Alto Comando do Exército e a própria instituição por não terem apoiado a ação dos radicais. Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o militar era contrário à posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No dia anterior ao ataque aos prédios dos três Poderes, o GSI dispensou o reforço que havia sido enviado pelo CMP para a guarda do Planalto. O pelotão com 36 homens deixou a sede do Executivo e voltou para o BGP, onde permandeceu de prontidão. Só no dia seguionte, quando os extremistas começaram a marchar pela Esplanada é que os militares, por miniciativa do CMP voltaram.

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