Em Israel, o sábado é equivalente ao domingo brasileiro: último dia de descanso da semana. É quando algo em torno de 1/3 das forças de segurança do país estão em folga. Foi neste sábado (7.out.2023) que o grupo extremista Hamas iniciou um ataque sem precedentes ao país, o pior em 60 anos –ao menos 482 pessoas morreram.
Desde a Guerra do Yom Kippur, em 1973, não havia incursões terrestres em territórios israelenses cuja soberania não é questionada internacionalmente. Os ataques do Hamas começaram 1 dia depois de o conflito dos anos 1970 completar 50 anos.
Brasileiros que vivem no país afirmam que foram acordados ao som de sirenes e explosões. Quem mora no centro e no norte do país tem até 1 minuto e 30 segundos para ir a um bunker –fortificações contra mísseis e disparos. No sul, mais perto da Faixa de Gaza, o tempo é menor: 15 segundos.
“FIQUEI CHOCADO”
O empresário brasileiro Artur Melon, 66 anos, vive a 7,2 km da fronteira com Gaza em uma fazenda comunitária, conhecida como kibutz. Foi criado por judeus brasileiros que emigraram a Israel. No judaísmo, esse movimento de volta ao país é conhecido como Aliyah.
Melon fez Aliyah há 43 anos. Acordou neste sábado com o barulho da defesa antiaérea israelense, conhecida como Domo de Ferro, ou Iron Dome, em inglês. Estava sozinho em casa porque sua mulher viajou para Portugal.
“Eu ouvi a explosão e isso significa que o sistema interceptou um foguete. Mas depois vieram mais 2, 3, 4. Percebi que algo estranho estava acontecendo. Liguei a televisão e fiquei chocado com o número de ataques”, falou ao Poder360.
Sua casa é antiga e não tem bunker. Já as casas dos 3 filho contam com o espaço. Exceto a tranquilidade de saber que a mulher e os filhos estão em relativa segurança, tudo é tensão. A região onde Melon vive foi a mais atingida pelos ataques terrestres do Hamas.
“[Militantes do Hamas] entraram nas comunidades. Como havia soado o alarme, os moradores de casas novas ficaram nos quartos seguros e se fecharam. Mas houve casos de arrebentarem as portas e sequestrar as pessoas. Em um kibutz perto daqui, há 50 reféns”, disse.
Assista às imagens do ataque do Hamas (3min24s):
“COMO DEIXARAM PASSAR?”
A analista política Daniela Kresch, 54 anos, diz acreditar que o conflito deve se arrastar. Motivo: trata-se de um ataque sem precedentes, com invasão de território e sequestro de civis e militares. Ela escreve para o IBI (Instituto Brasil Israel) sobre política israelense.
Kresch passou o dia com a filha no quarto seguro da sua casa. De lá, acompanhou o desenvolvimento do conflito. Diferentemente de Artur, ela mora perto de Tel Aviv, região centro-norte de Israel. “Quando temos um quarto protegido, que são obrigatórios nas casas mais novas, facilita. Mas muitas pessoas não têm. E precisam sair de casa para um bunker público”, disse.
Em alguns casos, os bunkers se encontravam fechados. Apesar de contar com um dos serviços de inteligência mais conceituados do mundo, Israel foi pego de surpresa. A analista diz querer entender como isso foi possível: “O Hamas já estava planejando o ataque. Não foi da noite para o dia. Quero saber qual a explicação da inteligência, do exército, das forças de segurança para esse vexame. Não sabiam antes? Como deixaram passar?”.
A analista afirma ser uma questão de tempo para, na sua avaliação, a opinião pública se voltar contra Israel. “Sempre começa com os palestinos fazendo besteira, puxando um pouco a corda para passar dos limites e ver até onde podem ir. Daí vem retaliação e ficam contra”, declarou.
“CONFLITO VAI ESCALAR”
O jornalista Henry Galsky, 43 anos, vive em Harish, no distrito de Haifa, no norte de Israel. Também foi acordado por uma sucessão de ligações. Foi quando tomou ciência do que estava em curso.
“Agora a preocupação é expulsar ou eliminar todos os terroristas em solo israelense. Depois, o conflito vai escalar. Por último, deve ter responsabilização política. Como o governo deixou passar algo tão grande assim?”, questionou.
Segundo ele, algo raro está em curso no país. Sempre que há ataques, diz, a união prevalece. Desta vez, no entanto, o jornalista afirma que há pessoas tentando deixar o país: “Em episódios mais limitados, que duram uma semana, talvez 15 dias, nunca vi as pessoas saírem do país. Agora, muitos estão tentando”.
Arquivo pessoal Henry Galsky em seu escritório. Ele acordou com uma série de ligações falando sobre os ataques Saiba mais sobre a guerra em Israel:
- o grupo extremista Hamas lançou um ataque sem precedentes contra Israel em 7 de outubro;
- cerca de 2.000 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza; extremistas também teriam se infiltrado em cidades israelenses –há relatos de sequestro de soldados e civis;
- Israel respondeu com bombardeios em alvos na Faixa de Gaza;
- o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou guerra ao Hamas e disse que o país irá vencer;
- o conflito já deixou 482 mortos (250 israelenses e 232 palestinos) e centenas de feridos;
- líderes mundiais como Joe Biden e Emmanuel Macron condenaram os ataques –entidades judaicas fizeram o mesmo;
- Irã e Hezbollah comemoraram a ação do Hamas;
- o Itamaraty anunciou que irá pedir uma reunião de emergência na ONU para discutir o conflito;
- Lula chamou os ataques do Hamas de “terrorismo”, mas relativizou episódio;
- 1 brasileiro se feriu e 2 estão desaparecidos em Israel, diz Itamaraty;
- Embaixada de Israel no Brasil chamou Hamas de “ramo” do regime iraniano;
- Arthur Lira e Rodrigo Pacheco também se pronunciaram e fizeram apelo pela paz;
- Bolsonaro repudiou os ataques e associou o Hamas a Lula;
- ENTENDA – saiba o que é o Hamas e por que entra em conflito com Israel
- FOTOS E VÍDEOS – veja imagens da guerra.
MAPA DA GUERRA
ENTENDA O QUE É O HAMAS