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Sustos de Lula reacendem alerta por falta de um sucessor

Publicado 03.11.2024, 16:10
© Reuters Sustos de Lula reacendem alerta por falta de um sucessor

Os sustos pelos quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou recentemente e o fraco desempenho do PT nas eleições municipais reacenderam discussões sobre a falta de um sucessor natural do petista. O status de líder supremo sobre seu próprio partido e a falta de renovação dos quadros históricos da legenda dificultam a ascensão de um herdeiro.

Em outubro, o avião presidencial em que o governante estava retornando do México ao Brasil teve uma pane e precisou sobrevoar a Cidade do México por quase 5 horas antes de poder pousar. No mesmo mês, o petista caiu no Palácio da Alvorada, bateu a cabeça e teve um traumatismo craniano, o que lhe impediu de realizar viagens.

Sejam aliados ou opositores, ninguém aponta um nome óbvio que possa substituir o presidente nas eleições de 2026, caso ele decida não concorrer à reeleição, ou nas posteriores. Embora integrantes do Palácio do Planalto avaliem que Lula será candidato no próximo pleito, quando terá 80 anos na campanha eleitoral, admitem que não há atualmente um plano B definido.

Lula é visto como o único nome do campo da esquerda capaz de enfrentar e, eventualmente, ganhar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O petista também poderia desbancar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Bolsonaro está inelegível neste momento e Tarcísio diz querer concorrer à reeleição no Estado. O cenário mostra que a oposição também pode ter dificuldade em decidir um nome competitivo para 2026.

Aliados do petista falam que a situação pode favorecer a esquerda, já que o governo poderia ter mais força para encontrar uma opção viável ao Planalto.

Mas a avaliação nos bastidores é que ninguém se apresentará publicamente enquanto Lula estiver bem e exercendo seu papel político no PT e na esquerda. A explicação é que qualquer um que apareça antes disso será alvo da oposição e dos grupos lulistas dentro do PT.

Desde 2018, quando concorreu à Presidência no lugar de Lula, Fernando Haddad (PT) é tido por alguns como o nome a suceder o petista. A possibilidade, no entanto, é contestada até mesmo pelo partido. O atual ministro da Fazenda perdeu para Bolsonaro naquela eleição. Em 2022, também saiu derrotado na disputa pelo governo de São Paulo, quando o ex-ministro de Bolsonaro Tarcísio de Freitas foi eleito. As duas derrotas consecutivas são vistas como sinal de que Haddad não teria como conquistar um eleitorado nacional.

Durante o processo eleitoral de 2024, o deputado Guilherme Boulos (Psol) foi também alçado ao posto de substituto de Lula. A candidata à vice na sua chapa, Marta Suplicy (PT), chegou a cravar publicamente a possibilidade. “Outro dia eu liguei para o Lula, viu? [e disse:] ‘Pode ficar tranquilo, você já tem um herdeiro’. Ele deu uma risada gostosa”, disse durante um ato de campanha. O próprio Boulos minimizou a questão na mesma hora: “Essa não é uma discussão para ser feita nesse momento”, disse. A derrota frustrante do psolista na eleição, porém, fez água na aposta de Marta.

Mais recentemente, o nome do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), começou a circular na bolsa de apostas dos sucessores. Conta com boa avaliação do presidente sobre o seu trabalho e tem rodado o Brasil para apresentar o programa Pé de Meia, programa social mais inovador do 3º mandato do petista. Camilo ganhou pontos também com a eleição de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza (CE), única capital conquistada pelo PT. O ministro foi um dos principais fiadores da candidatura de Leitão, que fez carreira política no PDT. Camilo, porém, é desconhecido fora do Nordeste e não tem o apoio de líderes do partido.

Os petistas apontam uma “lulodependência”, estimulada pelo próprio presidente há décadas, e veem um cenário muito ruim em 2026 caso ele desista de tentar uma reeleição. Além de perder um candidato, o partido perde seu principal puxador de votos para eleger deputados e senadores em um momento em que a direita, com mais governadores, atuará para ampliar sua bancada no Congresso.

IDADE DE LULA PESA

No mesmo dia do 2º turno das eleições municipais, 27 de outubro, que sacramentou a derrota do principal apadrinhado do presidente no pleito, Guilherme Boulos (Psol), Lula completou 79 anos. Em outubro de 2026, terá os mesmos 81 anos que Joe Biden tinha quando desistiu de tentar a reeleição em 2024, abrindo caminho para sua vice, Kamala Harris (Democrata), disputar a Casa Branca contra Donald Trump (Republicano).

Em julho de 2024, o Poder360 ouviu especialistas que avaliaram que a condição física e mental do petista deve ser levada em conta antes de lançar a candidatura nas eleições de 2026. Apesar de alguns deslizes de Lula, a questão não é tão visível para o eleitorado.

Em entrevista à época, o cientista político e presidente do Instituto Monitor da Democracia, Márcio Coimbra, avaliou que a comparação de idade entre Lula e Biden faz sentido, apesar de o petista não apresentar os mesmos sinais de fraqueza em função da idade que Biden apresenta: “Nada impede que ele [Lula] se debilite ao longo dos anos, então, isto é um fator de preocupação”.

Sempre que tem oportunidade, Lula fala de aspectos positivos de sua saúde e tenta demonstrar vigor. Frequentemente conta que se levanta às 5h30 e faz exercícios físicos quase todos os dias. Isso, de acordo com Coimbra, é uma tentativa do petista de mostrar que está em “boas funções mentais” e com o “corpo em dia”, porque, afinal, “isso é condição para o cargo [de presidente]”.

RACHA NO PT

O Partido dos Trabalhadores expôs um racha pós-eleições quando 2 personagens fortes na sigla trocaram críticas públicas sobre o desempenho eleitoral da legenda.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse na 2ª feira (28.out) que o partido avançou no âmbito municipal, mas que ainda não saiu do “Z4” das eleições municipais. O Z4 é como se chama o fim da tabela de campeonato de futebol onde os 4 últimos colocados são rebaixados.

“O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas na minha avaliação, não saiu ainda do Z4 que entrou em 2016 nas eleições municipais. Então, teve conquistas importantes, a eleição na capital, elegeu cidades importantes nesse 2º turno, mas ainda tem um esforço de recuperação. Eu acho que o PT vai fazer uma avaliação sobre isso, certamente sobre esse resultado, como voltar a ser um partido com mais protagonismo, sobretudo nas grandes cidades, nas médias cidades”, afirmou.

A declaração não ficou sem resposta. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, reclamou publicamente de Padilha.

“Pagamos o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão. E estamos numa ofensiva da extrema-direita. Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças. Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados”, escreveu Gleisi em seu perfil no X.

A deputada federal afirmou que o ministro deveria ter mais respeito com o partido que “lutou por Lula Livre e Lula Presidente quando poucos acreditavam”.

“Temos de refrescar a memória do ministro Padilha, o que aconteceu conosco desde 2016 e a base de centro de direita no Congresso que se reproduz nas eleições municipais, que ele bem conhece”, escreveu.

ELEIÇÕES 2024

O Partido dos Trabalhadores elegeu 252 prefeitos em todo o país nas eleições municipais de 2024. Desses, só 6 em grandes cidades (aquelas com mais de 200 mil eleitores). O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a comandar uma capital depois de um hiato em 2020. Venceu em Fortaleza (CE).

Numa conta aritmética, o PT sai das urnas com mais prefeitos do que conquistou em 2020. Um crescimento de 184 para 252, ou seja, 68 prefeituras a mais. Só que esse desempenho é tímido para um partido que está na Presidência da República. A sigla até hoje não conseguiu voltar ao patamar de 2012, pré-operação Lava Jato, quando chegou ao maior número de cidades de sua história: 625. Na época, Lula havia acabado de encerrar seu 2º mandato com alta aprovação e havia feito sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010.

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