Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil rejeita qualquer uso da força por parte da Venezuela para ocupar o território de Essequibo, na Guiana, e tem pedido ao governo de Caracas que não ameace seu vizinho, disse nesta quarta-feira o assessor especial da Presidência, Celso Amorim.
O ex-chanceler brasileiro, que viajou para a Venezuela como enviado especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado, disse à Reuters que o Brasil se opõe "ao uso da força ou da ameaça".
"Transmiti nossas preocupações muito sérias", disse ele sobre sua visita a Caracas antes de um referendo sobre Essequibo realizado no fim de semana.
"Agora há novos fatos que são ainda mais preocupantes. Não deixaremos de transmitir nossas preocupações, especialmente em relação à política de não uso da força", disse Amorim.
Os venezuelanos votaram em um referendo no domingo para aprovar a anexação de Essequibo. O governo venezuelano realizou a votação apesar de uma decisão da Corte Internacional de Justiça que impede a Venezuela de tomar qualquer medida que altere o status quo na área em disputa.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse nesta quarta-feira ao chegar para um evento do Mercosul no Rio de Janeiro que, apesar do aumento das tensões entre Venezuela e Guiana, não vê riscos de um conflito armado entre os dois países.
O ministro demonstrou tranquilidade em relação à situação entre os vizinhos, mesmo com a elevação recente da temperatura.
"Não, em absoluto", disse à Reuters ao ser perguntado sobre se via a possibilidade da situação entre Venezuela e Guiana escalar para um conflito armado.
Em meio ao aumento das tensões, o Ministério da Defesa decidiu reforçar a presença militar brasileira na região da fronteira com Venezuela e Guiana e enviar blindados para um grupamento militar localizado em Boa Vista, capital de Roraima.
Em questão está uma região de 160.000 quilômetros quadrados, que é composta em sua maior parte por uma selva densa. A Venezuela reativou sua reivindicação sobre o Essequibo nos últimos anos após a descoberta de vastas reservas de petróleo e gás no mar.
Essequibo está em disputa desde o século 19, quando a Guiana era uma colônia britânica. Um tribunal internacional em Paris resolveu a questão em 1899, mas a Venezuela diz que a decisão foi fraudada.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)