Por Gabriel Codas e Leandro Manzoni
Investing.com - Na parte da manhã desta quinta-feira na B3, as ações da Marfrig (SA:MRFG3) se revezam com a Via Varejo (SA:VVAR3) entre as maiores altas do Ibovespa hoje. O apetite pelos papéis vem na esteira do resultado do frigorífico no segundo trimestre de 2020, divulgado ontem após o fechamento do mercado.
A companhia teve lucro líquido de R$ 1,59 bilhão no período, um salto ante os R$ 87 milhões obtidos em igual entre abril e junho de 2019, melhora que a companhia atribuiu à melhora no desempenho operacional e firme demanda da China. Além de ter batido com folga a previsão do mercado, cuja mediana do consenso era lucro líquido de R$ 430 milhões.
Por volta das 10h50, os papéis somavam 5,37% a R$ 15,50, com máxima em R$ 16,30. O volume financeiro do papel estava em R$ 257,75, o segundo maior atrás da Via Varejo. Além de contribuir para a alta do Ibovespa hoje, que avançava 0,94% a 103.055 pontos.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado subiu 266% ano a ano, a R$ 4,1 bilhões. A receita líquida consolidada atingiu R$ 18,9 bilhões, crescimento de 54% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
Visão dos analistas
A XP Investimentos destaca que a Marfrig apresentou excelentes resultados no 2T20, superando as expectativas do mercado em todos os principais indicadores. Os resultados também foram impulsionados pelo segmento da América do Sul, cuja receita líquida teve crescimento anual de 27,7%. Houve um aumento de 67,8% nas exportações em relação ao 2T19, aproveitando a demanda crescente da China. A corretora lembra que a Marfrig é o frigorífico brasileiro que detém o maior número de plantas habilitadas para exportar para a China.
Para a Mirae Asset, foi um resultado muito acima da expectativa, beneficiado por volumes, preços e variação cambial, aliado a eficiência operacional e queda nos spreads, principalmente nos Estados Unidos. Os analistas continuam esperando um cenário ainda favorável para o setor de carnes, com preços elevados, o que deverá continuar beneficiando a Marfrig, principalmente devido à forte demanda da China, mesmo no atual cenário de covid-19.
Já os analistas do BTG (SA:BPAC11) qualificaram o resultado como "nada, apenas impressionante" por ter batido o consenso de analistas mais otimistas com a empresa, inclusive dando destaque ao crescimento anual de 3,6% no Ebitda para R$ 3,9 bilhões. O Ebitda ficou 79% acima da estimativa do BTG e 36% maior em relação ao consenso do mercado. A margem do Ebitda de 21%, além disso, ficou 2,6 vezes maior do que a média dos últimos sete trimestres, impulsionado pela performance no mercado dos EUA. Na maior economia do mundo, a Marfrig mais do que dobrou a margem e quase triplicou o Ebtida em dólares.
Além disso, o BTG destaca os fortes resultados operacionais, que deixaram em segundo plano o impacto negativo do câmbio. No entanto, os analistas do banco alertam que não vêem as margens do segundo trimestre se repetir entre julho e setembro, ainda mais que a capacidade utilizada do setor voltou aos níveis pré-pandêmicos e as margens do preço da carne nos EUA estão próximos dos normais.
Mesmo assim, o BTG aposta em um bom momento da indústria frigorífica no segundo semestre de 2020 nos EUA, tendo uma redução no ciclo talvez em 2021. Resta saber, na avaliação do banco, se a Marfrig vai conseguir gerar caixa suficiente para reduzir sua dívida estimada em R$ 18,1 bilhões. O banco projeta um Ebitda anual por volta de R$ 4-4,5 bilhões sob margens normalizadas dos mercados dos EUA e da América do Sul, com um múltiplo de aproximadamente de 6,7x Ebitda.
O BTG não atualizou as previsões de Marfrig após o resultado. O papel tem recomendação neutra com preço-alvo em R$ 13,00.
Balanço
“Apesar do cenário adverso (com a pandemia da Covid-19), a companhia registrou um desempenho operacional significativamente acima da média do mercado...Buscamos comprar melhor e vender melhor”, disse à Reuters o presidente da Operação América do Sul da Marfrig, Miguel Gularte.
“Nosso preço médio (de portfólio) subiu 18%, enquanto o mercado subiu 11%...Reduzimos os abates em linha com o mercado, de 10% a 11%, mas o custo com gado aumentou 31%, enquanto para a Marfrig subiu 29%”, comparou.
No período, a receita líquida da Operação América do Sul —Brasil, Argentina, Uruguai e Chile— atingiu 4,4 bilhões de reais, crescimento anualizado de 27,7%, enquanto o Ebitda ajustado passou de 216 milhões de reais para 613 milhões.
Parte significativa deste resultado se deve ao forte avanço de exportações da Operação América do Sul para a Ásia. Segundo a companhia, as vendas de carne bovina para China e Hong Kong saltaram 145% no trimestre, no comparativo ano a ano, e representam 65% das receitas de exportação.
Gularte disse que este forte desempenho no mercado asiático foi impulsionado também pelo aumento no número de plantas habilitadas para exportar à China.
“O Brasil teve um acréscimo de 17 plantas aprovadas pelos chineses, em relação ao segundo trimestre do ano passado. A Marfrig, mais quatro”, afirmou o executivo.
Atualmente com 13 unidades habilitadas pela China, a Operação América do Sul da Marfrig obteve 68% de suas receitas totais oriunda do exterior. Há um ano, essa fatia era de 52%.
Sobre a pandemia, Gularte ressaltou que nenhuma planta da empresa foi paralisada no Brasil e os gastos com medidas de prevenção alcançaram 42 milhões de reais desde o fim de março.
O food service foi o segmento mais afetado e a expectativa é que até o quarto trimestre haja uma normalidade.
Olhando para os próximos meses, Gularte vê um cenário de ajuste na oferta de gado no Brasil, relacionado a questões climáticas por ausência dos animais de confinamento, mas compensada por preços atrativos para a carne.
(Com contribuição de Reuters)