Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro subiram 0,8 por cento em janeiro sobre dezembro, em um resultado melhor do que o esperado mas insuficiente para compensar a forte queda vista no fim do ano passado e que não afasta o cenário de fragilidade do setor em meio a um ambiente de debilidade econômica.
O resultado mensal do primeiro mês deste ano foi o mais forte para meses de janeiro desde 2012 (quando cresceram 2,5 por cento), mas isso depois de o setor ter visto as vendas recuarem 2,6 por cento em dezembro sobre o mês anterior, interrompendo quatro meses seguidos de alta.
Na comparação com o mesmo mês de 2014, as vendas varejistas avançaram 0,6 por cento em janeiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística (IBGE) nesta sexta-feira. Apesar da alta, foi a leitura mais fraca para o mês em 12 anos, destacando a fraqueza vivida pelo setor diante da inflação alta e da baixa confiança do consumidor.
"Os setores que se destacaram tiveram influência de promoções e liquidações de telefones, iPads (tablets), TVs, roupas, visto que o Natal não foi muito bom para o comércio", explicou a coordenadora da pesquisa no IBGE, Juliana Vasconcellos, acrescentando que houve ainda o efeitod a base muito fraca vista em dezembro.
"Não dá para chamar o crescimento de janeiro de recuperação. O ambiente econômico continua o mesmo de dezembro", completou.
Ainda assim, os resultados de janeiro foram bem melhores do que as expectativas em pesquisa da Reuters, de queda de 0,5 por cento na comparação mensal e de recuo de 0,9 por cento na base anual.
RECEIO
O IBGE informou que cinco das oito atividades pesquisadas no varejo restrito tiveram alta mensal no volume de vendas, com destaque para equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (12,3 por cento) e móveis e eletrodomésticos (2,4 por cento).
Já as vendas de combustíveis e lubrificantes ficaram estagnadas em janeiro na comparação com dezembro.
A receita nominal no varejo restrito, por sua vez, avançou 1,3 por cento na comparação mensal e 6,4 por cento na base anual.
O volume de vendas no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, subiu 0,6 por cento em janeiro sobre o mês anterior, mas com queda de 0,5 por cento nas vendas de Veículos e motos, partes e peças e recuo de 0,1 por cento em Material de construção..
"O desempenho de segmentos como veículos e material de construção mostra uma saturação dos incentivos do governo, e ainda tem um receio das famílias em gastar mais e investir nesse ambiente desfavorável", completou Juliana.
O ano de 2015 para o setor varejista brasileiro começou como terminou o anterior --com inflação alta, juros elevados e confiança do consumidor em deterioração, com piora do mercado de trabalho.
Em fevereiro, o Índice de Confiança do Consumidor medido pela Fundação Getulio Vargas renovou a mínima histórica ao 4,9 por cento.
"O cenário para o consumo privado e as vendas no varejo no curto prazo continua restrito pelo fluxo moderado de crédito tanto de bancos privados quanto públicos, altos níveis de dívida das famílias, desaceleração da criação de empregos e do crescimento real do salário", apontou em nota o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina Alberto Ramos.
Ele citou ainda taxas de juros elevadas, preços maiores de serviços públicos e transportes e confiança fraca dos consumidores como pesos para o varejo.
Destaque da economia brasileira por cerca de uma década, o consumo das famílias já vem dando sinais de esgotamento há tempos, somando-se à fraqueza da produção industrial e levando economistas a projetarem na pesquisa Focus do Banco Central contração econômica neste ano de 0,66 por cento.
(Reportagem adicional de Pedro Fonseca no Rio de Janeiro)