Montevidéu, 14 jul (EFE).- O ex-presidente do Uruguai José Mujica (2010-2015) afirmou que a Alemanha é hoje quem "manda na Europa" com decisões "austeras e impositivas" e qualificou de "brutal" e pouco eficiente a gestão europeia da crise financeira grega.
"A Alemanha impõe não só sua economia, sua alta tecnologia. Na realidade esta Alemanha de hoje manda na Europa. Suas decisões no final são austeras e impositivas. Tome-a ou deixe-a. E, naturalmente, convencidos ou não, o resto da Europa de forma alguma aceita e isto é incomum na história europeia", opinou Mujica no programa de rádio que mantém após deixar a presidência.
O ex-presidente e atual senador falou da Europa e da crise grega tanto em seu programa semanal de rádio como em um ato de homenagem ao ex-titular da Secretaria-Geral Ibero-Americana e do Banco Interamericano de Desenvolvimento Enrique Iglesias.
Mujica foi muito duro ao manejo feito pela União Europeia (UE) com relação à crise grega e opinou que ao atuar assim, se transformou em uma herdeira da "Europa colonialista".
"O que acabamos de ver na Grécia é uma coisa brutal. É como se a Europa tivesse constituído um protetorado ou algo pelo estilo. Mas a Europa já gastou US$ 380 bilhões e não corrigiu o problema e a Grécia tem 12 (ou) 14 milhões de habitantes. Quer dizer que não são tão eficientes como parece", afirmou na sede da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).
"Esta decisão da Europa não só por seu conteúdo, mas, além disso, por sua forma, nos obriga a pensar mais uma vez que no fundo esta Europa que decide é uma herdeira da Europa colonialista. Estas coisas fazem o ouvinte parar e pensar, porque podem ter valor de notícia, mas têm mais valor como rumo", concluiu.
Em seu programa, Mujica ressaltou que o Reino Unido não entrou na zona do euro, mas "enquanto mantém sua libra independente, está observando e dentro de algum tempo vai decidir seu rumo" em alusão ao peso da Alemanha na Europa.
O ex-presidente também criticou a maneira como a UE negocia um acordo de livre-comércio com o Mercosul, "quando há mais de 10 anos" os governos da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai "lutam (e) tentam" assiná-lo.
"Esse acordo procura ser algo que compense, (...) eu buscava o mesmo por tradição cultural, por necessidade de ter alguma alternativa, por construir uma interdependência que nos assegure mais independência também", considerou.