Por Humeyra Pamuk e Suleiman Al-Khalidi
ISTAMBUL/BEIRUTE (Reuters) - Combatentes curdos no norte da Síria acusaram o Exército turco de bombardear suas posições nesta segunda-feira, em uma evidência do caminho complicado que o governo turco está seguindo ao bombardear simultaneamente o Estado Islâmico na Síria e insurgentes curdos no Iraque.
Membro da Otan, a Turquia integra a coalizão liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico, mas vinha demonstrando relutância em suas ações contra os jihadistas. No entanto, o país deu uma guinada na semana passada ao permitir que os norte-americanos e outros aliados usassem suas bases aéreas para bombardear alvos na Síria ligadas ao movimento jihadista.
A Turquia também empreendeu uma segunda noite de ataques aéreos contra acampamentos de insurgentes curdos no Iraque, no domingo, parte do que um alto funcionário do governo descreveu como uma "batalha de pleno direito contra todas as organizações terroristas".
A campanha militar renovada contra o grupo curdo turco Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que travou uma insurgência de três décadas contra o Estado, em parte usando bases no norte do Iraque, levantou suspeitas de que o verdadeiro objetivo da Turquia é conter as ambições territoriais curdas em vez de lutar contra o Estado Islâmico.
O governo turco teme que o sucesso da milícia curda YPG, que tem expulsando o Estado Islâmico de áreas no norte da Síria, com a ajuda de ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos, vá atiçar o sentimento separatista entre os curdos da Turquia e encorajar o PKK.
Os curdos da Turquia dizem que, ao reviver o conflito aberto com o PKK, o presidente Tayyip Erdogan também está tentando minar o apoio à oposição pró-curda antes de uma possível antecipação das eleições parlamentares e atiçar o sentimento nacionalista.
Numa declaração que deve aprofundar as suspeitas dos curdos, a milícia YPG disse que o Exército turco bombardeou as suas posições em uma aldeia nos arredores da cidade fronteiriça síria de Jarablus, que está sob o poder do Estado Islâmico, e instou a Turquia a parar com os ataques contra as suas forças. Vários disparos de tanques do outro lado da fronteira atingiram suas posições e o Exército turco estava alvejando-os, em vez de ter como alvo os "terroristas", disse o comunicado YPG.
(Reportagem adicional de Orhan Coskun em Ancara e Ayla Jean Yackley em Istambul)