Por Tatiana Bautzer e Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - A J&F Investimentos concordou em vender sua participação controladora na fabricante de calçados Alpargatas (SA:ALPA4) por 3,5 bilhões de reais para veículos de investimento das mais proeminentes famílias de banqueiros do Brasil.
Sob os termos do acordo, a Cambuhy Investimentos, a Itaúsa (SA:ITSA4) e o fundo Brasil Warrant vão dividir a fatia controladora de 86 por cento que a J&F detém na Alpargatas, de acordo com comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A esperada venda é a primeira feita pela J&F --holding da família Batista, controladores da JBS (SA:JBSS3)-- desde um acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) em meio à uma investigação sobre corrupção da Operação Lava Jato.
Os recursos serão utilizados para pagar a dívida da J&F e acelerar os pagamentos de uma multa de 10,3 bilhões de reais no âmbito da investigação, disseram fontes à Reuters no domingo.
O valor da aquisição corresponde a 14,25 reais por ação ordinária e 11,40 reais por ação preferencial, informou a Alpargatas no documento enviado ao regulador.
A fabricante dos chinelos Havaianas viu suas ações dispararem mais de 50 por cento neste ano sob expectativas de uma venda. A empresa também é proprietária de outras marcas, como a Osklen.
A Itaúsa concentra investimentos das famílias Villela e Setubal, que controlam o Itaú Unibanco (SA:ITUB4), ao passo que a Cambuhy pertence à família Moreira Salles, também grande acionista do banco.
A Itaúsa informou separadamente que pagará metade desse montante, ou 1,75 bilhão de reais, para ficar com uma fatia de 27,12 por cento do capital total da Alpargatas. A empresa pretende contratar dívida para realizar o investimento.
O Banco Bradesco (SA:BBDC4) BBI assessorou a J&F no acordo, e o JPMorgan Chase trabalhou com o consórcio de compradores.
Segundo fontes com conhecimento da situação, os irmãos Joesley e Wesley Batista utilizarão os recursos obtidos pela J&F na transação para pagar um empréstimo de 2,7 bilhões de reais que contraíram, para financiar uma aquisição, junto à Caixa Econômica Federal.
O empréstimo está sob investigação do Tribunal de Conta da União para potenciais irregularidades. Os irmãos assinaram o acordo de leniência em maio após admitirem terem subornado quase 1.900 políticos para obter condições favoráveis de empréstimos para seus negócios.
Os Batistas compraram a Alpargatas em 2015 do grupo Camargo Correa.
(Reportagem adicional de Sérgio Spagnuolo)