Por Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO (Reuters) - Alvo da Operação Lava Jato nos últimos anos e buscando coibir irregularidades, a Eletrobras (SA:ELET3) vai inaugurar na próxima segunda-feira um canal de denúncias para acelerar apurações de possíveis desvios de conduta, disse à Reuters nesta sexta-feira o presidente da estatal, Wilson Ferreira Jr..
As denúncias feitas a esse canal, operado por uma empresa externa, serão classificadas por temas e direcionadas ao Comitê do Sistema de Integridade (CSI), que fará a gestão centralizada da apuração e dos processos de responsabilização e de remediação.
O CSI é coordenado pela Diretoria de Conformidade da Eletrobras e composto pelo diretor Jurídico e de Gestão Corporativa, diretor de Conformidade, auditor-geral, ouvidor geral e presidente da Comissão de Ética --todos da Eletrobras. Também integram o CSI representantes das demais empresas da companhia, em rodízio anual.
Caso a denúncia seja verídica e procedente, serão tomadas medidas de responsabilização dos envolvidos e remediação do processo ou controle relacionado ao fato apurado.
Serão registradas no canal todas as manifestações que envolvam suspeita de conduta antiética ou ilegal, tais como uso indevido de bens e recursos, desvio de recursos ou materiais, favorecimento de terceiros, entre outros, segundo a própria estatal.
"Os casos de corrupção na história recente da companhia não identificaram uma quadrilha instalada aqui dentro, mas houve desvio de conduta, inclusive de pessoas com cargos de diretoria. Um canal potente como este vai facilitar a gente a ter acesso a suspeitas e denúncias", afirmou Ferreira.
"O sucesso da Lava Jato está no processo de delação premiada, que nada mais é do que denúncia... isso é a prova de que o canal de denúncia é a ferramenta útil para, no mínimo repensar, processos e condutas. Contra conluio, só mesmo a denúncia", acrescentou a diretora de Conformidade da Eletrobras, Lúcia Casasanta.
Desde que a Lava Jato atingiu a estatal, ao menos seis executivos foram exonerados e dez afastados temporariamente. No ano passado, a empresa fez uma baixa contábil de 303 milhões de reais fruto dessas irregularidades e desvios detectados.
Com o auxílio da Advocacia Geral da União (AGU), a Eletrobras tentará na Justiça o ressarcimento dos recursos e ainda estuda a possibilidade de mover ações indenizatórias contra construtoras que prestaram serviços e agiram em conluio, formando cartéis.
"A possibilidade de ressarcimento é muito maior do que o número que foi contabilizado, porque existem coisas que não se convertem em baixas... o cálculo é mais complexo do que o de uma propina", finalizou Casasanta, sem revelar o montante que ainda está sendo calculado.