Na falta de sinais visíveis de avanço na agenda econômica, o mercado de ações mostrou alívio com o político nesta Quarta-feira de Cinzas sem carnaval, ao menos em um primeiro momento. Na abertura, o receio inicial era de que a prisão de um deputado federal no fim da noite, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), pudesse se transformar em crise institucional. Contudo, o referendo unânime do plenário do STF à decisão do ministro Alexandre de Moraes, e a falta de apoio a Daniel Silveira (PSL-RJ) entre a maioria de seus pares, contribuiu para desanuviar a retomada de negócios após dois dias de feriado.
Assim, o Ibovespa recuperou às 14h53 o nível dos 120 mil pontos, e de lá não mais desceu das 14h56 até o fechamento desta abreviada sessão, iniciada às 13h. Ao fim, o índice da B3 mostrava o terceiro ganho consecutivo, em alta de 0,78%, aos 120.355,79 pontos, saindo de mínima a 118.879,97 para chegar na máxima aos 120.597,33, com abertura a 119.421,13 pontos. Em dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro foi de R$ 55,9 bilhões. Em fevereiro, o Ibovespa avança 4,60%, elevando o ganho no ano a 1,12%.
"Alguma estabilização no S&P 500 e a ata do Fomc contribuíram à tarde, mas o fundamental, hoje, foi a decisão unânime do STF, respaldando Moraes. Ainda é preciso esperar pela decisão da Câmara, mas não parece que se esteja a caminho de algo mais grave, uma crise entre poderes", diz Jefferson Laatus, estrategista do Grupo Laatus.
Dessa forma, em sessão curta e com poucos catalisadores disponíveis, carros-chefes da B3 (SA:B3SA3) conseguiram se alinhar ao bom desempenho de ADRs (Brazil Titans) no dia anterior em Nova York, quando Wall Street também retornava de feriado, na segunda-feira. Hoje, com o Brent registrando ganhos acima de 1%, de volta a US$ 64 por barril, as ações da Petrobras fecharam em alta de 4,14% (ON) (SA:PETR3) e de 4,04% (PN) (SA:PETR4), enquanto Vale ON (SA:VALE3) avançou 2,62%. Destaque também para o setor de siderurgia, especialmente Usiminas (SA:USIM5) (+5,78%), CSN (SA:CSNA3) (+2,89%) e Gerdau (SA:GGBR4) PN (+1,45%).
"A alta do petróleo, refletindo a nevasca que atinge o estado do Texas, um dos maiores produtores dos EUA, impulsionou as ações da Petrobras. E as ações ligadas às commodities metálicas subiram com o resultado acima do esperado para Rio Tinto (LON:RIO) - e perspectivas da empresa, de que o preço do minério de ferro seguirá firme ao longo deste ano", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. Ele chama atenção para o Ibovespa estar "novamente próximo da região de 121/120 mil pontos, resistência intermediária que vem segurando o mercado neste mês."
"O Ibovespa está de volta aos 120 mil, e pode retomar mesmo os 125 mil pontos (máxima histórica), com base em fluxo e taxas de juros muito baixas. Mas não vemos avanço na agenda econômica, de reformas, que é o que garante o longo prazo. Uma hora a conta chega", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. Ele observa também que a retomada da economia depende da progressão massiva da vacinação, como tem ocorrido nos EUA desde a posse do presidente Joe Biden. "Aqui, pelo contrário, vemos escassez de vacina", acrescenta.
Nesta quarta, os bancos tiveram desempenho misto, com Itaú PN (SA:ITUB4) em alta de 1,26% e Bradesco ON (SA:BBDC4), baixa de 1,03%. Na ponta do Ibovespa, Embraer (SA:EMBR3) fechou em alta de 14,09%, com o Goldman Sachs tendo elevado o preço-alvo dos ADRs da empresa negociados em Nova York. As ações da Embraer foram beneficiadas também por comentários do CEO da Lufthansa sobre "a necessidade de adequar pedidos anteriores a pandemia por aviões maiores, em aeronaves de alcance mais ajustado a menores rotas e ao novo normal", aponta em nota a Ativa Investimentos . "Em sua fala, o CEO proferiu que, além de Boeing e Airbus, está em negociações com a Embraer", acrescenta a gestora. No lado oposto do índice, Eneva (SA:ENEV3) fechou em baixa de 3,31%, à frente de RaiaDrogasil (-3,25%) e de WEG (SA:WEGE3) (-3,14%).