Por Renee Maltezou e Deepa Babington
ATENAS (Reuters) - O líder esquerdista grego Alexis Tsipras foi empossado nesta segunda-feira como primeiro-ministro de um novo governo linha-dura e contrário ao resgate financeiro, determinado a enfrentar os credores internacionais e encerrar cinco anos de medidas econômicas severas.
A vitória decisiva do partido de Tsipras, o Syriza, na eleição antecipada de domingo renovou os temores de novas dificuldades financeiras no país que deu início à crise regional de 2009. Também é a primeira vez que um dos 19 membros da zona do euro será governado por partidos que rejeitam a austeridade defendida pela Alemanha.
O sucesso de Tsipras deve fortalecer as legendas europeias periféricas, inclusive outros movimentos antiausteridade em todo o sul da região, ainda em dificuldades econômicas. A surra nos conservadores representa uma derrota do meio termo na política do continente, que se perdeu num debate de crescimento versus disciplina orçamentária durante cinco anos enquanto os eleitores sofriam.
Sem usar gravata, como é seu estilo, o ex-estudante e comunista Tsipras, de 40 anos, tornou-se o primeiro premiê da história grega a ser empossado sem o juramento tradicional com uma bíblia e a bênção com manjericão e água do arcebispo da Grécia.
Em uma curta cerimônia secular na qual prometeu honrar a Constituição, Tsipras disse ao presidente, Karolos Papoulias: "Temos uma estrada íngreme adiante."
Como gesto simbólico, sua primeira ação no cargo foi comemorar a resistência dos combatentes gregos com rosas vermelhas num memorial de Atenas às pessoas executadas pelos nazistas.
Desafiando as previsões de que iria se transformar de populista em pragmático assim que assumisse, Tsipras rapidamente selou um acordo de coalizão com o pequeno partido Gregos Independentes, que também se opõe ao programa de empréstimos da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Syriza conquistou 149 dos 300 assentos do Parlamento com sua campanha "A Esperança está Chegando!", ficando a duas cadeiras da maioria absoluta e necessitando de um parceiro de coalizão. Os Gregos Independentes, que discordam do Syriza em muitos temas sociais, como a imigração ilegal, obtiveram 13 vagas.
A aliança é incomum. Os partidos, que estão em extremos opostos do espectro político, só compartilham o ódio mútuo pelo programa de resgate de 240 bilhões de euros, que forçou o país a promover cortes no orçamento.
"À primeira vista, isso parece um casamento muito estranho, mas os dois partidos dividem uma forte oposição à austeridade", disse o analista da consultoria IHS Global Insight, Diego Iscaro.
A união dá a entender que Tsipras irá manter a animosidade contra os credores da Grécia, que descartaram as exigências dele de um cancelamento da dívida e insistiram que o país precisa de reformas e medidas de austeridade para colocar suas finanças de volta nos trilhos.
Yanis Varoufakis, economista e blogueiro explicitamente contrário à austeridade, deve ser anunciado ministro das Finanças quando o novo gabinete for revelado na terça-feira, disseram autoridades de primeiro escalão do partido.
A reação dos mercados financeiros à vitória do Syriza foi em grande parte morna, já que o euro se recupera após atingir seu menor valor em 11 anos em relação ao dólar com os resultados iniciais da eleição.
As ações gregas caíram 3 por cento, puxadas pelas ações de bancos como o Piraeus Bank, que despencaram 17,6 por cento. O rendimento dos títulos gregos com vencimento em 10 anos subiu, mas ficou abaixo dos níveis vistos na véspera da eleição.
Pela primeira vez em mais de 40 anos, nem o partido Nova Democracia, nem o Pasok, de centro-esquerda, as duas forças que dominavam a política grega desde a queda de uma junta militar em 1974, estarão no poder, pois foram derrotados por um partido que até recentemente sempre esteve à margem da política.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, que disse que o FMI continuará apoiando a Grécia, e o presidente do Eurogrupo de ministros das Finanças da zona euro, Jeroen Dijsselbloem, disseram que queriam trabalhar com o novo governo.
(Reportagem adicional de Angeliki Koutantou, Lefteris Papadimas e George Georgiopoulos; de Tim Ahmann, em Washington; e de Padraic Halpin, em Dublin)