Por Nandita Bose
WASHINGTON (Reuters) - O direito ao aborto ajudou os democratas a evitarem uma grande derrota nas eleições de meio de mandato no ano passado nos EUA, e o partido pretende colocar a questão no centro da disputa de 2024 pela Casa Branca.
Enquanto os candidatos republicanos propõem novas medidas para restringir o aborto e os Estados liderados por eles implementam controles mais rígidos, a campanha de reeleição do presidente norte-americano, Joe Biden, divulgou na sexta-feira um novo anúncio intitulado "Esses caras", como parte de uma campanha de 25 milhões de dólares focada no eleitorado feminino em Estados decisivos para a disputa.
O anúncio mostra o ex-presidente Donald Trump recebendo o crédito pelo fim de Roe v. Wade, a decisão da Suprema Corte que reconheceu o direito constitucional ao aborto, e o governador da Flórida, Ron DeSantis, assinando uma proibição do aborto para fetos de até seis semanas em seu Estado.
As decisões sobre cuidados de saúde reprodutiva são pessoais e “as últimas pessoas que deveriam estar envolvidas são esses caras”, diz o anúncio.
A peça parte de um esforço maior por parte dos grupos de direitos das mulheres, dos direitos reprodutivos e dos democratas, para colocar o direito ao aborto no centro da campanha de 2024 e atacar as medidas anti-aborto nas urnas de todo o país.
Funcionários da campanha de Biden, o Comitê Nacional Democrata e grupos de direitos humanos disseram à Reuters que o direito ao aborto interrompeu uma esperada "onda vermelha" de tomada do Senado pelos republicanos em 2022. Eles acreditam que isso atrairá mais democratas e alguns eleitores independentes e republicanos para Biden em 2024.
Inspirando-se nas campanhas publicitárias republicanas do passado, os democratas tentam apelar para o desejo dos norte-americanos de manter o governo de fora de suas vidas pessoais.
As pesquisas de boca de urna mostraram que um aumento no número de eleitores jovens, especialmente mulheres, ajudou os democratas, e as eleitoras que migraram de Trump ajudaram a entregar a Casa Branca a Biden em 2020.
A proibição do aborto atrai a base evangélica cristã dos republicanos, e a derrubada do caso Roe v. Wade tem sido uma questão estimulante para a direita há décadas. Mas o assunto é impopular com o público em geral, e os democratas pretendem aproveitar isso.
O "No Dem Left Behind" ("Nenhum democrata deixado para trás"), um comitê de ação política (PAC), começou esta semana a treinar ativistas para buscarem apoio ao direito ao aborto entre os republicanos.
"Trata-se de liberdade. Fomos fundados como um país com base nesse princípio", disse Hassan Martini, que fundou o PAC em 2019. "Quase 40% dos republicanos rurais se identificam como pró-escolha. Quem está falando com eles? Nós estamos", disse.
A maioria dos levantamentos, incluindo uma pesquisa Reuters/Ipsos de julho, mostra que a maioria dos eleitores dos EUA se opõe aos candidatos presidenciais que são a favor de restrições rigorosas ao aborto.
(Reportagem de Nandita Bose em Washington; reportagem adicional de Andrea Shalal)