Por Stephanie Nebehay e Simon Lewis
GENEBRA/SHAMLAPUR, Bangladesh (Reuters) - O alto comissário da ONU para os direitos humanos criticou Mianmar nesta segunda-feira por realizar uma "operação militar cruel" contra muçulmanos rohingyas no Estado de Rakhine, classificando-a como "um exemplo didático de limpeza étnica".
Zeid Ra'ad al-Hussein fez seus comentários ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra no momento em que o saldo total de rohingyas que fugiram de Mianmar rumo a Bangladesh em pouco mais de uma quinzena subiu para 300 mil.
A leva de refugiados --muitos doentes ou feridos-- está sobrecarregando as agências humanitárias que já socorrem centenas de milhares de vítimas de episódios de violência anteriores em Mianmar.
"Recebemos múltiplos relatórios e imagens de satélite de forças de segurança e milícias locais incendiando vilarejos rohingyas, e relatos coerentes de execuções extrajudiciais, incluindo disparos contra civis em fuga", disse
Zeid.
"Peço ao governo que encerre sua atual operação militar cruel, com a responsabilização por todas as violações que ocorreram, e reverta o padrão de discriminação grave e generalizada contra a população rohingya", acrescentou. "A situação parece um exemplo didático de limpeza étnica".
Ataques de militantes rohingya do Exército de Salvação Arakan a postos policiais e a uma base do Exército em Rakhine, Estado do noroeste do país, em 25 de agosto provocaram uma contraofensiva militar.
Mianmar diz que suas forças de segurança estão conduzindo operações de liberação para se defenderem do Exército de Salvação Arakan, que o governo declarou ser uma organização terrorista.
No domingo, Mianmar rejeitou um cessar-fogo decretado pelo Exército de Salvação Arakan para permitir a entrega de ajuda a milhares de deslocados e famintos no norte de Rakhine, afirmando simplesmente que não negocia com terroristas.
Monitores de direitos humanos e rohingyas em fuga acusam o Exército e vigilantes budistas de Rakhine de organizarem uma campanha de incêndios criminosos com o objetivo de expulsar os rohingyas.
O governo de Mianmar, país de maioria budista onde os cerca de um milhão de muçulmanos rohingyas são marginalizados, vem negando repetidamente as acusações de "limpeza étnica".
(Reportagem adicional de Shoon Naing, Wa Lone e Antoni Slodkowski em Yangon e Krishna N. Das em Cox's Bazar, Bangladesh)