Por Bill Tarrant
YANGON (Reuters) - O diplomata veterano dos Estados Unidos Bill Richardson renunciou a posto em um painel internacional montado por Mianmar para consultas sobre a crise rohingya, dizendo que ele estava conduzindo um "acobertamento" e acusando a líder do país, Aung San Suu Kyi, de falta de "liderança moral".
Richardson, um ex-membro do gabinete do governo Clinton, renunciou no momento em que o conselho consultivo de 10 membros realizava sua primeira visita para o Estado de Arracão, de onde quase 700 mil muçulmanos rohingya fugiram nos últimos meses.
"A principal razão pela qual estou renunciando é que esse conselho consultivo é um acobertamento", disse Richardson à Reuters em uma entrevista, acrescentando que ele não queria ser parte de "uma equipe de líderes de torcida para o governo".
Richardson afirmou que ele entrou numa discussão com Suu Kyi durante uma reunião na segunda-feira com outros membros do conselho, quando ele apresentou o caso de dois repórteres da Reuters que estão sendo julgados sob acusação de violar a lei de segredos do país.
Ele disse que a resposta de Suu Kyi foi "furiosa", dizendo que o caso dos repórteres "não era parte do trabalho do conselho consultivo". A discussão continuou em um jantar mais tarde naquela noite, disse o ex-governador do Novo México.
Nem Suu Kyi nem seu porta-voz Zaw Htay, que também é o porta-voz do governo, responderam a pedidos de comentário.
Os repórteres Wa Lone, de 31 anos, e Kyaw Soe Oo, de 27 anos, estavam trabalhando na cobertura da Reuters da crise em Arracão, de onde 688 mil rohingya fugiram de uma repressão do Exército a insurgentes desde o fim de agosto, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas.
Eles foram detidos em 12 de dezembro, após terem sido convidados a se encontrar com policiais durante um jantar em Yangon. O governo citou a polícia dizendo que eles foram presos pela posse de documentos secretos relacionados à situação de segurança em Arracão.
As forças armadas foram acusadas por testemunhas rohingya e ativistas de direitos humanos de realizar execuções, estupros e fogo posto em uma campanha que autoridades sêniores das Nações Unidas e dos Estados Unidos descreveram como "limpeza étnica". Mianmar rejeita esse rótulo e negou quase todas as alegações.
Richardson disse que ele também foi "pego de supresa pelo vigor com o qual a mídia, as Nações Unidas, grupos de direitos humanos e a comunidade internacional em geral foram desprezados" durante os três últimos dias de reuniões que o conselho realizou com autoridades de Mianmar.
"Ela não está recebendo bons conselhos de sua equipe", disse Richardson sobre Suu Kyi, a quem ele conhece desde a década de 1980. "Eu gosto muito dela e a respeito. Mas ela não mostrou liderança moral sobre a questão de Arracão e as alegações feitas, e eu sinto muito por isso".
O assessor de segurança nacional de Suu Kyi, Thaung Tun, disse à Reuters que ele havia escoltado os outros membros do conselho em uma viagem a Arracão nesta quarta-feira, mas que Richardson não havia participado.
"Ele disse que estava infeliz sobre a situação, mas eu não tenho certeza sobre o que ele estava infeliz", disse. "Essa é apenas a etapa inicial, esse é o começo de todo um ano de negócios, então eu não sei o que aconteceu que o fizesse se sentir daquele jeito".