(Reuters) - O presidente Michel Temer admitiu que a reforma da Previdência possível de ser aprovada agora não será tão abrangente quanto deveria e prevê que podem ser necessárias novas modificações em poucos anos.
"A gente faz agora a reforma que é possível e, sendo uma reforma possível, ela não será tão abrangente como deveria sê-lo. Então, é possível que daqui a seis, sete, oito anos, tenha que fazer uma nova atualização", disse Temer em entrevista publicada neste sábado no jornal O Estado de S. Paulo.
Questionado se a reforma se restringiria apenas à idade mínima, o presidente respondeu: "Não, acho que é idade e a quebra dos privilégios. A questão de igualar a previdência privada com a pública é fundamental. As pessoas não suportam mais a história de diferenças, de privilégios."
Procurando minimizar o peso de reforma da Previdência, que enfrenta dificuldades de aprovação no Congresso, na agenda legislativa do governo, Temer disse que muitas vezes se refere a ela como "atualização previdenciária" e a colocou no mesmo patamar de prioridade que a reforma política e a chamada simplificação tributária.
O presidente, no entanto, disse que espera contar para a aprovação das reformas com o apoio de deputados que se posicionaram contra ele na votação da denúncia por corrupção, na última quarta-feira, citando especificamente parlamentares do PSDB.
"Eu não acredito que eles votem contra o Brasil. O PSDB sempre diz: 'Olha, temos compromisso com as reformas. Não interessa quem está no poder'", disse.
"Muita gente que votou contra mim vota a favor da Previdência. Nós podemos chegar a 310 votos", acrescentou. Temer teve 263 votos favoráveis na quarta-feira.
Questionado sobre como recompor sua base de apoio, Temer deu sinais trocados. Ao mesmo tempo em que diz não pensar numa reforma ministerial e que a recomposição se dará por meio do diálogo e sem retaliação, afirma também que o governo pode "facilitar" a vida de quem vota contra o Planalto, indicando dispensa de cargos. Diz inclusive que acha que "muitos até pedirão para eliminar os seus cargos".
Sobre a votação que barrou a investigação por corrupção passiva, Temer rejeitou que tenha usado a liberação de emendas para conseguir apoio, argumentando que as mesmas são impositivas e também foram liberadas para deputados da oposição.
META FISCAL, IMPOSTOS E JUROS
Apesar das crescentes dificuldades de o governo garantir o cumprimento da meta fiscal deste ano, de um déficit de 139 bilhões de reais, o presidente disse ainda não saber se será necessário modificá-la, ressaltando que "este é um governo que não mente".
Temer disse que já conversou e voltará a discutir com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, "para verificar qual seria o montante, se necessário".
Sobre a necessidade de novos aumentos de impostos, o presidente disse que "isso tudo está sendo estudado com muita calma, não há nenhuma definição".
"Eu nem devia estar dizendo isso porque vocês vão publicar que estamos examinando tributos sobre dividendos. Exames sempre existem."
Questionado até onde deve recuar neste ano a taxa básica de juros, hoje em 9,25 por cento, o presidente projetou 7,50 por cento "com muita possibilidade". O último boletim Focus do Banco Central com instituições financeiras mostra previsão de 8,0 por cento. Mas o chamado "Top 5", com os economistas que mais acertam as projeções, aponta para 7,50 por cento, como Temer.
DENÚNCIAS E LAVA JATO
O presidente disse não ter preocupação com as esperadas delações do empresário Lúcio Funaro e do ex-deputado Eduardo Cunha e que se o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar uma nova denúncia contra ele "vamos enfrentá-la".
Temer, no entanto, criticou Janot, afirmando que suas ações têm natureza política, "quase pessoal", o que não deveria acontecer.
"Nem ele deve ter disputa pessoal com o presidente da República, muito menos eu terei com ele. Jamais lhe daria essa satisfação", disse Temer. "Lamento é que ele, a todo momento, anuncie que vai fazer uma nova denúncia, baseada nos mesmos fatos. É um gestual político, institucionalmente condenável."
O presidente aproveitou para elogiar a futura procuradora-geral, Raquel Dodge, que vai substituir Janot em meados de setembro. "Pelo que conheço da procuradora Raquel Dodge, ela vai cumprir rigorosamente o que a lei estabelece", disse. E aproveitou para reafirmar que não tem como objetivo acabar com a operação Lava Jato.
Questionado se a mudança na PGR e eventuais mudanças na Polícia Federal dariam um novo rumo à operação, Temer disse que "darão o rumo correto à Lava Jato".
"Ninguém nunca pretendeu destruir a Lava Jato", afirmou. "O rumo certo é o cumprimento da lei. Rigorosamente o cumprimento da lei."