Por Patrícia Duarte
SÃO PAULO (Reuters) - O cenário de inflação para 2014 e 2015 do Banco Central piorou e continua em patamares elevados, com indicação de que entrará em convergência para a meta somente em 2016, pavimentando o caminho para novas altas da Selic.
Segundo ata da última reunião do Comitê de Política Monetária divulgada nesta quinta-feira, essa pressão vem, em parte, dos ajustes nos preços relativos (câmbio e administrados), o que "tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável", justificando a surpreendente alta de 0,25 ponto percentual na Selic, para 11,25 por cento ao ano.
A decisão pelo aumento do juro básico na semana passada, no entanto, foi bastante dividida.
Os três dos oito membros do Copom que votaram pela manutenção da taxa básica argumentaram "que incertezas ainda cercam a magnitude e a persistência desses ajustes", de modo que, "neste momento", as condições monetárias deveriam ficar inalteradas, segundo a ata.
O Copom "reconhece que esses ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação e reafirma sua visão de que a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem deles decorrentes", trouxe o documento.
Sobre os preços administrados, o BC prevê alta de 5,3 por cento em 2014, acima dos 5 por cento calculados até então, ao mesmo tempo em que manteve as contas de 2015 e 2016 em 6 e 4,9 por cento, respectativamente.
"É o inicio de processo de subida dos juros... É uma ata mais dura com relação à inflação", afirmou o economista do BBVA, Enestor dos Santos, citando o câmbio, preços administrados e política fiscal.
Para ele, a Selic será elevada em 0,25 ponto percentual em dezembro, última reunião do Copom deste ano, e os próximos passos dependerão dessas variáveis. Neste momento, a projeção de que a Selic irá a 12,25 por cento neste novo ciclo de aperto monetário continua, acrescentou.
Três dias depois de a presidente Dilma Rousseff ser reeleita, o BC surpreendeu e decidiu elevar a taxa básica de juros.
A alta foi bem recebida por agentes econômicos, que viram no movimento sinal de que poderia haver mudança na política econômica no segundo mandato da petista. Mas muitas dúvidas ainda continuam, sobretudo sobre como a política fiscal será conduzida e quem substituirá Guido Mantega no Ministério da Fazenda.
A política econômica tem sido bastante criticada por ser pouco transparente e por um lado fiscal frouxo e por ter corroborado com o atual cenário de inflação alta e baixo crescimento.
No mercado de juros, as taxas dos contratos futuros mais curtos tinham leves variações após a ata sancionar as apostas de que o ciclo de aperto iniciado na semana passada não vai ser tão curto, com a curva ainda precificando alta total de 1,75 ponto percentual na Selic.
Segundo analistas, contudo, parte dessa aposta reflete prêmios com as incertezas sobre a política econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff, sobretudo em relação à política fiscal e ao próximo ministro da Fazenda. Também por isso, os vencimentos mais longos avançavam.
MAIS INFLAÇÃO
Pela ata, o BC também piorou suas projeções de inflação. Sem citar números e pelo cenário de referência (com o dólar a 2,50 reais e Selic a 11 por cento), informou que elas subiram para 2014 e 2015 e se encontram acima do centro da meta, de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais.
E nos três primeiros trimestres de 2016, "apesar de indicarem que a inflação entra em trajetória de convergência", as projeções também estão acima da meta.
O mais recente relatório Focus com economistas estimou inflação de 6,45 por cento neste ano e de 6,32 por cento em 2015, enquanto o BC, em seu último relatório de inflação, apontou para alta do IPCA de 6,3 e 5,8 por cento, respectivamente.
O IPCA acumulava alta de 6,75 por cento em 12 meses até setembro, maior nível em quase três anos. Soma-se a esse cenário alta de mais de 10 por cento do dólar de setembro para cá.
Na ata do Copom, o BC informou que "o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade" no período relevante para a política monetária, ao mesmo tempo em que via "há evidências de focos de tensão e de volatilidade nos mercados de moedas".
O BC também ressaltou que a atividade tende a entrar em trajetória de recuperação no próximo ano.
Desde abril deste ano a Selic estava em 11 por cento, apesar de a inflação ter rompido o teto da meta em vários momentos. Muitos entendiam que o BC estava evitando elevar os juros para não comprometer ainda mais o crescimento econômico.
A expectativa era de que a taxa de juro seria mantida em 11 por cento neste ano e subiria apenas em 2015.
Pela ata, o BC informou que a "política monetária deve se manter especialmente vigilante". No documento anterior, de setembro, não usava a palavra "especialmente".
(Reportagem adicional de Silvio Cascione, em Brasília; Edição de Alexandre Caverni)