Os juros futuros fecharam esta sexta-feira, 29, em queda. A realização de lucros que puxava os juros para cima pela manhã, na esteira da surpresa negativa do índice PCE nos Estados Unidos, estancou no meio do dia e as taxas viraram para baixo no começo da tarde. A percepção de que o Federal Reserve deve ser menos agressivo no aperto monetário, alimentada pelo discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, e no cenário de recessão técnica nos Estados Unidos, voltou a prevalecer, provocando redução de posições tomadas também na B3 (BVMF:B3SA3).
Se o Fed não for tão longe, do mesmo modo o Copom pode não precisará subir muito mais a Selic, e, com isso, o mercado preferiu ir mais leve para o fim de semana que antecede a reunião de agosto. Com o alívio entre ontem e hoje, as principais taxas de curto, médio e longo prazos terminaram julho no menor nível desde o dia 1º, ou seja, a inclinação se manteve nos mesmos níveis do fim do mês passado.
Assim como ontem, as taxas voltaram a fechar nas mínimas do dia. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou em 13,785%, e 13,836% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,501% para 13,34%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,68%, de 12,839%, e a o DI para janeiro de 2027 recuou a 12,61%, de 12,76%.
Com o alívio nos prêmios de risco na curva desde quarta-feira, estimulado pelas declarações dovish de Powell e com o PIB negativo dos EUA no segundo trimestre, o mercado iniciou um ajuste de alta nas taxas pela manhã, amparado na força dos Treasuries, cujos rendimentos subiam com o núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE) dos EUA um pouco acima da previsão em junho. O avanço dos preços do petróleo e do dólar ante o real também autorizavam alguma correção. Mas o movimento de ajuste durou somente até o meio da tarde, quando as taxas passaram a cair, acompanhando o arrefecimento dos juros dos títulos do Tesouro americano e ainda o dólar reduzindo os ganhos e voltando a rodar abaixo de R$ 5,20.
"O mercado está percebendo que os juros não vão subir tanto nem aqui nem nos EUA. Lá porque a economia já está desacelerando e aqui o aperto já é suficientemente robusto, dando conta dos desafios domésticos", explica o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, que admite estar isolado no mercado com sua previsão de aumento de 0,25 ponto porcentual da Selic para a reunião de quarta-feira. Na sua avaliação, o Copom subirá a Selic para 13,50% e encerrará o ciclo. "Dado que o Copom começou antes, não precisará subir muito mais", argumenta.
Na pesquisa realizada pelo Projeções Broadcast, a expectativa de elevação de 0,50 ponto porcentual na taxa básica, para 13,75%, é praticamente consensual. Entre 51 instituições consultadas, 49 esperam alta de 0,5 ponto.
Perfeito, da Necton, vê ainda uma melhora no ambiente eleitoral após a publicação da Carta pela Democracia, documento que já recebeu mais de 365 mil assinaturas, organizado pelos alunos da Faculdade de Direito da USP. "A Carta melhorou a percepção de risco institucional. Até gostaria de afirmar, mas ainda é cedo, que o processo vai acontecer tranquilamente", comentou.