HAVANA/WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos e Cuba concordaram formalmente nesta quarta-feira em restaurar seus laços diplomáticos, rompidos há 54 anos, cumprindo uma promessa feita seis meses atrás pelos ex-inimigos da Guerra Fria.
O presidente norte-americano, Barack Obama, e seu homólogo cubano, Raúl Castro, trocaram cartas concordando com a reabertura de embaixadas nas respectivas capitais, o que Havana disse poder acontecer até 20 de julho.
"É um avanço histórico em nossos esforços para normalizar as relações com o governo e o povo cubanos e iniciar um novo capítulo com nossos vizinhos nas Américas", declarou Obama no Jardim Rosa da Casa Branca.
Ao falar em Viena, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, afirmou que irá visitar Havana ainda no segundo semestre para hastear a bandeira de seu país na embaixada, que atualmente é uma seção de interesses dos EUA sob proteção do governo da Suíça.
Obama e Raúl querem relegar à história os 56 anos de recriminações que predominaram desde que os rebeldes comandados por Fidel Castro derrubaram o governo de Fulgencio Batista, que tinha apoio dos EUA, em 1º de janeiro de 1959.
"Cuba se sente encorajada pela intenção recíproca de desenvolver relações respeitosas e cooperativas entre nossos dois povos e governos", escreveu Raúl Castro, de 84 anos, irmão caçula de Fidel e presidente cubano desde 2008, em sua carta a Obama.
O acordo com Cuba simboliza um grande feito para Obama, que foi criticado por seus tropeços na política externa, especialmente no Oriente Médio. A reaproximação se segue a uma vitória recente em uma batalha com o Congresso que pode concretizar um acordo comercial com a Ásia e ocorre no momento em que Washington parece às vésperas de alcançar um acordo nuclear com o Irã.
Após 18 meses de negociações secretas mediadas pelo papa Francisco e pelo Canadá, os dois líderes anunciaram em dezembro de forma separada, porém simultaneamente, seus planos de reabrir as embaixadas e normalizar os laços diplomáticos. O entendimento também envolveu uma troca de prisioneiros.
Com o restabelecimento das relações, EUA e Cuba irão se voltar para problemas bilaterais mais difíceis.
O governo comunista de Cuba declarou em comunicado que, para ter relações normais em geral, os EUA precisam suspender seu embargo econômico contra Cuba e devolver a base naval da baía de Guantanamo, que arrenda desde 1903. Cuba quer que os 116 quilômetros quadrados voltem a pertencer à sua soberania territorial.
Obama, um democrata, pediu ao Congresso de maioria republicana que suspenda o embargo de 53 anos, mas a liderança conservadora da legislatura tem resistido ao apelo.
A declaração cubana afirmou que os EUA também necessitam interromper as transmissões de rádio e televisão para a ilha e os programas "subversivos" dentro de Cuba, que Washington afirma terem o objetivo de incentivar a democracia no Estado de partido único.
(Reportagem de Daniel Trotta, em Havana; e de Jeff Mason, Roberta Ramptonm, Matt Spetalnick e Lesley Wroughton, em Washington)