Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - Na esteira do pessimismo dos brasileiros com a economia em recessão e a procura de famílias com mais recursos por estudos e trabalho em outros países, a demanda pelo green card, cobiçado visto de residência permanente nos Estados Unidos, tende a se multiplicar em 2016.
É nisso que aposta a gestora norte-americana LCR, especializada no programa que oferece o green card a pessoas com disposição e recursos a ter atividade empresarial nos EUA, conhecido como EB-5.
Após registar 12 brasileiros no programa no ano passado, que se comprometeram a investir cerca de 6 milhões de dólares nos EUA, a LCR lançou recentemente uma segunda rodada de captação de recursos, com o qual pretende ter no Brasil pelo menos metade dos interessados em fundo para cerca de 100 participantes.
"A crise tem aumentado a demanda e sabemos que se o Brasil estivesse indo bem, a procura não seria tão grande", diz Ilka Komatsu, diretora da LCR no país.
Criado em 1990, o EB-5 credencia centros regionais a captar recursos para projetos que criem empregos, especialmente em regiões dos EUA com alto nível de desocupação. Hoje são pouco mais de mil desses projetos e fundos, como a LCR.
O programa se restringe a estrangeiros dispostos a investir pelo menos 500 mil dólares, sem promessa de rentabilidade, nem de retorno do principal. Cada cota deve garantir a geração de pelo menos 10 empregos por um período de cinco anos. Em troca, os EUA oferecem o green card provisório em 2 anos, válido também para cônjuge e filhos até 21 anos, e depois o visto permanente.
Segundo Ilka, a possibilidade de dar maiores chances de emprego para filhos estudantes nos EUA após a conclusão da faculdade é uma das maiores motivações de pessoas que procuram pelo EB-5.
O programa ganhou força nos últimos anos, na esteira da recuperação da economia norte-americana e da perda de vigor de países emergentes. No ano fiscal de 2014, foram 10,7 mil concessões de EB-5, ante 8,6 mil um ano antes. Os chineses ficaram com 85 por cento do total em 2014, segundo a consultoria norte-americana Savills Studley.
Criada em 2012, a própria LCR teve mais demanda de chineses para seu primeiro fundo para financiar a expansão da rede de lojas Dunkin' Donuts no Estado de Nova York. Agora, o segundo fundo da LCR vai financiar novas franquias da marca nos Estados do Texas, Alabama, Louisiana e do Mississippi.
Segundo Ilka, com a recessão no Brasil, a procura de brasileiros pelo programa tem crescido. E, mesmo com a desvalorização acentuada do câmbio em 2015, a demanda deve se manter no curto prazo, prevê.
Isso porque o Congresso dos EUA votou pela extensão do programa pelas regras atuais até 30 de setembro, mantendo o investimento mínimo, ante expectativa de que o piso subiria para 800 mil dólares.
"Com o real se desvalorizando, quem tem interesse vai preferir se apressar", disse Ilka.
Segundo a diretora da LCR, pessoas procurando facilidades para os estudos dos filhos em universidades norte-americanas ou facilidades para trabalhar no país são as maiores motivações dos que procuram o EB-5.
Um desses casos é o da analista de recursos humanos Raisa Ramalho, de 26 anos, cujo marido conseguiu um visto de trabalho nos EUA, mas teve o mesmo pedido para ela negado. A saída foi tentar EB-5.
"Visto de trabalho virou loteria", disse Raisa. "Para quem tem recursos, o EB-5 é uma alternativa."
Procurado, o consulado dos Estados Unidos em São Paulo, o maior do país no Brasil, não informou quantos vistos de trabalho foram emitidos para brasileiros em 2015, até a publicação desta reportagem.