Por Leonardo Benassatto e Ueslei Marcelino
FEIJÓ, Acre (Reuters) - Enquanto incêndios atingem a Amazônia, tribos indígenas estão se voltando a rituais tradicionais na tentativa de deter a destruição da floresta e proteger o meio ambiente para as próximas gerações.
Em Feijó, cidade do Acre situada perto da fronteira com o Peru, membros da tribo Shanenawa realizaram uma cerimônia no domingo em busca de paz entre os humanos e a natureza.
Com os rostos pintados, dezenas de indígenas dançaram em círculos enquanto pediam o fim dos incêndios.
"Queremos paz e amor", disse o líder Tekaheyne Shanenawa à Reuters. "Estamos pedindo paz, harmonia e educação para parar essa queimada, porque está prejudicando os pensamentos na Amazônia, atacou a Amazônia".
Dezenas de milhares de incêndios foram registrados na Amazônia durante o período seco deste ano, o maior número em ao menos uma década.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 47.805 focos de queimadas na Amazônia de janeiro até 1º de setembro, o que representa um aumento de 53% em relação ao mesmo período de 2018.
Somente o mês de agosto deste ano registrou quase três vezes mais focos do que em relação ao mesmo mês de 2018, chegando 30.901 registros, o que representa um recorde para o mês em nove anos.
"Se continuar da forma que está... daqui a 50 anos, não temos mais essa floresta em pé", disse Bainawa Inu Bake Huni Kuin, outro líder shanenawa.
"Não temos mais segurança naquilo que nós temos, na nossa cultura, na nossa língua, nas nossas cantorias. Nós, sem a floresta, não vamos plantar, não vamos poder nos alimentar. Sem terra, não vamos poder viver."
A maior parte da Amazônia está no Brasil, mas partes consideráveis também se localizam na Colômbia e no Peru, onde incêndios também foram detectados. Os shanenawas são cerca de 720 e ocupam cerca de 23 mil hectares.
A reação internacional contra o governo do presidente Jair Bolsonaro devido às queimadas tem sido forte, uma vez que se acredita que muitos focos foram provocados por pecuaristas e plantadores de soja encorajados pelas políticas do presidente.
"Nossas festas são para rezar pelo planeta Terra, para que nós possamos mantê-lo sempre saudável e seguro pela mãe água, pelo pai sol, pela mãe floresta e pela mãe terra, que hoje se sentem muito prejudicados."