SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de veículos brasileira deve promover novas reduções de produção nos próximos meses, diante de estoques elevados e um mercado interno que caiu cerca de 30 por cento em janeiro, deixando montadoras e concessionárias com estoques para cerca de 50 dias de vendas.
A situação tende a dificultar os esforços do setor em evitar demissões em massa, com cerca de um terço dos trabalhadores da indústria de veículos sob suspensão de contratos de trabalho (layoff) ou sob o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) do governo federal, segundo dados da associação de montadoras, Anfavea.
O setor, que é responsável por cerca de 20 por cento do Produto Interno Bruto industrial do país, terminou janeiro com um total de 129,4 mil postos de trabalho ocupados, uma queda de 10 por cento sobre o começo de 2015. Desse total, 41.900 estavam com contratos de trabalho suspensos (layoff) ou recebendo salários menores e sob os temos do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) do governo federal.
A situação é mais grave no setor de caminhões, em que o nível de capacidade ociosa é de cerca de 60 por cento afirmou o vice-presidente da associação de montadoras, Anfavea, Marco Antonio Saltini.
"Estamos fazendo os maiores esforços para preservarmos os empregos, porque custa muito caro requalificar essa mão de obra, mas o mercado está ligado à economia e enquanto o país não estancar a queda (...) estamos fazendo os malabarismos para manter o nível de emprego", disse Saltini a jornalistas. Segundo ele, o setor de caminhões emprega cerca de 16 mil trabalhadores no país.
As vendas de caminhões novos, um indicador do nível de confiança dos empresários na economia, caíram 42,4 por cento em janeiro sobre o mesmo mês do ano passado, para 4.417 unidades, menor nível mensal desde os 4.189 veículos licenciados em janeiro de 2000, conforme dados da Anfavea.
Segundo o presidente da entidade, Luiz Moan, o setor não pretende cobrar do governo redução de carga tributária diante da difícil situação de ajuste fiscal do país. "Não é politicamente o momento adequado", afirmou Moan, que também é executivo da General Motors (N:GM).
"Várias empresas estão concedendo férias coletivas, licença remunerada, ampliando o período sem produção do Carnaval para buscarmos a proteção ao emprego. Mas claramente temos um excedente de pessoal nas nossas empresas", disse ele. A GM iniciou na semana passada demissões de cerca de 800 trabalhadores em fábrica no interior de São Paulo enquanto a Fiat decidiu no final de janeiro parar a fábrica em Betim (MG), a maior do grupo no mundo, por 20 dias.
Se a produção de veículos de janeiro já foi a pior para o mês desde 2003, Moan afirmou que os próximos dois meses os números tendem a ser ainda mais fracos, diante da necessidade de ajuste dos estoques. A expectativa do executivo é que a situação tenha leve melhora no segundo trimestre, com o setor esperando um princípio de recuperação nas vendas apenas a partir do final do terceiro trimestre.
Com o encolhimento do mercado interno, o setor está apostando fichas na renegociação ainda no primeiro semestre do acordo automotivo entre Brasil e Argentina, principal cliente da indústria nacional.
A Anfavea está propondo para sua contraparte argentina, Adefa, o fim do regime atual de cotas e entrada em vigor de livre comércio de veículos entre os dois países, incentivada por fim de controles cambiais promovidos por Buenos Aires.
(Por Alberto Alerigi Jr.)