Por Gilles Guillaume e Nick Carey
LONDRES (Reuters) - Nissan e Renault (EPA:RENA) revelaram nesta segunda-feira detalhes da reformulação da parceria das montadoras, com o grupo japonês se comprometendo a comprar uma participação de até 15% na unidade de veículos elétricos da francesa, Ampere.
O acordo, que também inclui a redução anunciada anteriormente da participação da Renault na Nissan, visa tornar a aliança mais livre e equilibrada pelos próximos 15 anos, disse o presidente-executivo da Renault, Luca de Meo.
O relacionamento desigual entre as duas montadoras, profundamente abalado pela prisão em 2018 do executivo que idealizou a aliança das empresas, Carlos Ghosn, em meio a um escândalo financeiro, há muito tempo é uma fonte de atrito entre os executivos da Nissan.
Embora a Renault tenha salvado a Nissan há duas décadas, ela é a menor montadora em vendas da aliança.
"Considero que o que concordamos é uma configuração muito melhor em relação ao que tivemos nos últimos anos", disse de Meo em uma apresentação da nova aliança em Londres.
"Temos agora um novo esquema de governança que é muito mais direto, agora podemos operar como uma empresa normal. Visto da Renault, trata-se de recuperar alguma agilidade estratégica sem quebrar necessariamente os laços e as sinergias que existiam."
O tamanho do investimento da Nissan ou mesmo um compromisso firme de colocar dinheiro na unidade de veículos elétricos do grupo francês, o principal negócio da Renault que deve ter ações listadas no mercado, até agora não está claro.
Nenhum detalhe financeiro foi divulgado nesta segunda-feira sobre a avaliação do negócio, que algumas fontes indicaram que pode chegar a 10 bilhões de euros. De Meo disse que o mercado decidirá o valor da unidade.
"Consideramos a Ampere um facilitador para a Nissan participar de novas oportunidades de negócios na Europa", disse o presidente-executivo da Nissan, Makoto Uchida, a jornalistas e analistas.
O presidente-executivo da Mitsubishi, Takao Kato, disse que a Ampere também fará parte da estratégia europeia de veículos elétricos e que a empresa "estudará mais" sua participação acionária na unidade.
Nissan e Renault já haviam anunciado que a montadora francesa reduziria sua participação na Nissan de 43% para 15%, transferindo uma participação de 28% para um fundo francês.
A Renault terá flexibilidade para vender as ações da Nissan mantidas no fundo, mas "não tem obrigação de vender as ações dentro de um período de tempo pré-determinado", disse a companhia.
De Meo disse que a Renault agirá de "boa fé" e venderá suas ações da Nissan de "maneira ordenada". Quando vender, a Nissan terá direito de primeira oferta.
As empresas também buscam sinergias de projetos conjuntos na Europa, Índia e América Latina, e trabalharão juntas nos negócios de veículos elétricos, eletrônicos e baterias de estado sólido.
O amplo reestruturação da aliança de 24 anos ocorre após meses de intensas negociações complicadas por preocupações sobre o compartilhamento de propriedade intelectual, já que a Renault buscava alianças com empresas de fora da parceria, incluindo a chinesa Geely.