ONGs vão à Justiça contra licença da Petrobras na Foz do Amazonas

Publicado 23.10.2025, 10:40
© Reuters ONGs vão à Justiça contra licença da Petrobras na Foz do Amazonas

Um grupo de ONGs (Organizações Não Governamentais) entrou com pedido na Justiça na 4ª feira (22.out.2025) em que apontam possíveis ilegalidades e falhas técnicas no processo de licenciamento para perfurar o poço Morpho, no bloco FZA-M-059, na bacia da Margem Equatorial.

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) concedeu a licença de operação para a Petrobras na 2ª feira (20.out.2025). Para as 8 organizações ambientais que assinaram o pedido, trata-se de autorização que avança sobre áreas de ecossistemas sensíveis e está em desconexão com os compromissos climáticos que o país tem afirmado internacionalmente.

Na ação, protocolada na 9ª Vara da cidade de Belém, a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), a Confrem (Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros e Marinhos), o Greenpeace Brasil, o Instituto Arayara, o Observatório do Clima e o WWF-Brasil também pedem liminar para suspender imediatamente as atividades de perfuração, sob risco de danos irreversíveis ao meio ambiente.

As organizações afirmam que o processo do Ibama tem 3 vícios fundamentais que o tornam nulo.

  • O 1º seria a ausência de estudos específicos sobre povos indígenas e comunidades tradicionais —como o Estudo de Componente Indígena e o Estudo de Componente Quilombola—, além da falta de consulta livre, prévia e informada, conforme determina a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Segundo as entidades, o projeto impacta diretamente terras indígenas, áreas quilombolas, colônias de pescadores, Reservas Extrativistas e Unidades de Conservação da região.
  • O 2º ponto é a fragilidade dos estudos técnicos sobre risco ambiental. O modelo de dispersão de óleo usado pela Petrobras, afirmam as ONGs, estaria desatualizado e não refletiria as condições reais da região —como correntes subsuperficiais, sedimentos e uso de dispersantes. Essa defasagem poderia levar parte do óleo derramado a atingir o Grande Sistema Recifal Amazônico.
  • O 3º vício apontado é a omissão dos impactos climáticos do projeto, considerado incompatível com as metas do Acordo de Paris e com o objetivo global de limitar o aquecimento a 1,5 °C. As entidades dizem que a autorização para o bloco FZA-M-59, o 1º de uma série prevista na Margem Equatorial, abre nova fronteira de expansão fóssil em plena crise climática e às vésperas da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).

O QUE DIZEM AS ONGS

Para o OC (Observatório do Clima), a licença representa “uma sabotagem à COP30” e “vai na contramão do papel de líder climático reivindicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cenário internacional”.

Segundo a entidade, “a decisão é desastrosa do ponto de vista ambiental, climático e da sociobiodiversidade. Organizações da sociedade civil e movimentos sociais irão à Justiça denunciar as ilegalidades e falhas técnicas do processo de licenciamento, que poderiam tornar a licença nula”.

“A emissão da licença para o Bloco 59 é uma dupla sabotagem. De um lado, o governo brasileiro age contra a humanidade ao estimular nova expansão fóssil, contrariando a ciência. De outro, impede a COP30 em si, cuja entrega mais importante deveria incluir a implementação da determinação de eliminação de combustíveis fósseis”, disse Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.

Segundo Nicole Oliveira, diretora-executiva do Instituto Arayara, a decisão de licenciar “é claramente política, e não técnica”. “O valor de uma sondagem de petróleo jamais pode superar o valor da vida das comunidades amazônicas, da biodiversidade e do equilíbrio climático do planeta”, disse.

Já para o Greenpeace Brasil, a concessão da licença às vésperas da COP30, que acontece em novembro em Belém, expõe uma contradição entre o discurso climático e a realidade de abertura de novas fronteiras de petróleo.

“Às vésperas da COP30, o Brasil se veste de verde no palco internacional, mas se mancha de óleo na própria casa. Enquanto o mundo se volta para a Amazônia em busca de soluções para a crise climática, vemos o Ibama conceder licença para que a Petrobras abra um poço de petróleo em pleno coração do planeta”, afirmou Mariana Andrade, coordenadora da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil.

A WWF-Brasil considera que a vitória da Petrobras na Foz do Amazonas representa “uma derrota de todos os brasileiros”. O posicionamento ressalta que, ao autorizar exploração em uma das regiões mais sensíveis do litoral amazônico, com alto risco socioambiental, o país corre o risco de comprometer recursos naturais, modos de vida tradicionais e sua credibilidade internacional no enfrentamento da crise climática.

O QUE DIZ O GOVERNO

O governo federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, defendeu o processo. Em nota, afirmou que a licença “resulta de um rigoroso processo de análise ambiental por parte do Ibama desde 2014” e que o empreendimento seguiu “critérios técnicos e científicos rigorosos”.

A ministra Marina Silva declarou que “em áreas de elevado risco, como a Foz do Amazonas e outras, deve-se obedecer aos mais rigorosos critérios técnicos, científicos e ambientais, garantindo o respeito ao meio ambiente, aos povos e comunidades da região do empreendimento e às riquezas socioambientais”. Marina reforçou que a determinação foi técnica.

Leia mais em Poder360

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.