Rio de Janeiro, 8 ago (EFE).- A crítica dos empresários brasileiros ao governo por limitar os acordos comerciais com outros países aos promovidos pelo Mercosul foi respondida nesta quinta-feira pelo ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, durante evento no Rio de Janeiro, que considerou que a assinatura dos tratados não garante um aumento das trocas comerciais.
"Assinar mais acordos não significa aumentar o comércio. Inclusive o comércio pode diminuir se o acordo não é bem negociado", afirmou Patriota na conferência.
O chanceler citou o caso do Chile que, segundo ele, por diferentes razões não conseguiu elevar o comércio com os Estados Unidos mesmo após a assinatura de um acordo de livre-comércio.
"Na Colômbia atualmente há um grande debate sobre os benefícios dos acordos de livre-comércio com os Estados Unidos e com a União Europeia", acrescentou Patriota.
O ministro respondeu assim as críticas de alguns empresários que consideram que o Brasil está perdendo espaço no comércio internacional por limitar seus acordos aos negociados conjuntamente pelo Mercosul, bloco integrado por Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela e Paraguai - suspenso temporariamente.
O Mercosul negocia há vários anos sem sucesso um acordo de livre-comércio com a União Europeia e desde o fim das negociações com a Alca não se colocou a possibilidade de estabelecer negociações com os EUA.
As críticas à impossibilidade brasileira de negociar acordos comerciais fora do bloco se intensificaram diante do sucesso obtido pelos países da chamada Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru) em negociações com outros blocos.
"Não há um nexo óbvio entre acordos e aumento do comércio, mas não descuidaremos dessa agenda", afirmou o ministro ao esclarecer que o Brasil se esforça para melhorar as relações comerciais com os países latino-americanos, para impulsionar um acordo entre Mercosul e União Europeia e para garantir o sucesso das negociações de uma nova rodada na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O investimento na ampliação do Mercosul também foi citado por Patriota. Depois da incorporação da Venezuela, a Bolívia também assinou acordo para entrar no bloco, o Equador manifestou a mesma intenção e até Suriname e Guiana se tornaram membros associados.
"Não podemos deixar de valorizar o que o Mercosul representou para o Brasil tanto em volume como em qualidade de comércio, já que o espaço é ideal para a troca de manufaturas", disse.
O Brasil tem superávit comercial com todos os países sul-americanos, com exceção da Bolívia. Com a ampliação do Mercosul, conta com acordos com os países que compreendem mais de 90% dos produtos exportados.
"O país com o qual menos avançamos é a Colômbia, onde isentamos 85% dos produtos", afirmou o chanceler ao referir-se ao vizinho que, na sua opinião, pode se transformar na segunda maior economia da América do Sul em uma década, à frente da Argentina. Segundo o ministro, o processo de paz na Colômbia pode promover condições sem precedentes para o crescimento do país.
Quanto às negociações Mercosul-UE, Patriota explicou que ambos acordaram melhorar os termos das trocas comerciais até o fim de 2013 e que o processo poderá ser retomado a partir de 15 de agosto, quando Horacio Cartes assume como novo presidente do Paraguai e o país será reintegrado ao Mercosul.
Patriota disse ver mais possibilidades de um acordo com a União Europeia a partir disso e afirmou esperar avanços em um ano, especialmente pelo forte apoio dos empresários ao processo.
"Agora nós estamos mais fortes economicamente e a União Europeia um pouco debilitada. Perderemos benefícios (com a eliminação das tarifas preferenciais), mas trata-se de uma oportunidade que merece ser impulsionada", finalizou Patriota. EFE