BRASÍLIA (Reuters) - A Rede analisa a possibilidade de entrar na próxima semana com uma representação no Conselho de Ética do Senado pedindo a cassação do mandato do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso na quarta-feira, enquanto outros senadores da oposição defendem que a Mesa Diretora se encarregue de tratar do assunto.
Delcídio foi detido acusado de tentar obstruir o andamento da operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4).
"Deveremos fazer uma consulta aos membros da executiva da Rede no decorrer desse final de semana e é uma hipótese que a Rede admite", disse nesta quinta-feira o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sobre uma representação.
Na noite de quarta-feira, o plenário do Senado ratificou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão de Delcídio, que atuava como líder do governo no Senado.
A gravação de uma conversa do então líder do governo na Casa o mostra oferecendo dinheiro, influência política e até uma rota de fuga para beneficiar o ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró, preso e já condenado na Lava Jato, em troca do silêncio do ex-diretor.
Segundo o senador da Rede, o pedido de seu partido deverá ser pela perda de mandato do senador petista.
"Acho que não tem nenhum atenuante, diante dos notórios acontecimentos, para haver outro pedido no conselho que não seja esse, lamentavelmente", disse Randolfe.
O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), no entanto, avaliou que cabe à Mesa Diretora do Senado tratar de questões referentes ao mandato de Delcídio.
"Daqui para a frente isso é tarefa da mesa", disse Agripino, acrescentando que também cabe à direção da Casa, por exemplo, decidir se o suplente de Delcídio deve assumir o mandato.
Após a prisão do senador, o Planalto anunciou que os quatro vice-líderes do governo no Senado --Paulo Rocha (PT-PA), Wellington Fagundes (PR-MT), Telmário Mota (PDT-RR) e Hélio José (PSD-DF)-- assumiriam interinamente a liderança até que seja anunciado o nome do novo líder.
Um outro senador da oposição, que pediu para não ser identificado, disse que ainda há muitas dúvidas dado o ineditismo da situação. Essa foi a primeira vez que um senador foi preso estando no exercício de seu mandato.
Esse parlamentar lembrou que existem outras soluções no curto prazo, como uma licença do mandato, por exemplo.
VOTAÇÕES
Na próxima semana o Congresso Nacional deve ter sessão conjunta para votar matérias de interesse do governo, como a mudança na meta fiscal deste ano e a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016.
Com a prisão de Delcídio, no entanto, o governo perde um dos seus principais articuladores no momento de votar questões tão importantes.
"Acho que teremos a sessão, mesmo porque temos de votar o Orçamento. Mas o governo está, digamos, sem o seu principal meio-campista, isso é evidente", disse Randolfe.
A votação da mudança da meta fiscal deste ano é especialmente sensível para o governo da presidente Dilma Rousseff. Isso porque, caso a meta não seja alterada, o governo deve incorrer em crime de responsabilidade fiscal, já que caminha para encerrar 20015 com um déficit nas contas.
(Reportagem de Leonardo Goy)