Por Paulo Prada
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Desde o início do surto do Zika no Brasil, que agora está se espalhando rapidamente pelas Américas, autoridades de saúde pública citam uma estatística de que somente cerca de uma em cada cinco pessoas infectadas pelo vírus apresenta algum sintoma.
Agora, no entanto, especialistas estão questionando se essa hipótese padrão não subestima a atual porcentagem dos que ficam doentes, dizendo que se chegou a tal conclusão há quase uma década em uma situação bastante diferente: uma ilha pouco povoada na Micronésia.
"Nós temos que questionar esse número”, disse o virologista Mauricio Lacerda Nogueira da escola de medicina de São José do Rio Preto, no Estado de São Paulo. “A realidade de um surto numa pequena ilha é totalmente diferente de um num grande país com diferentes tipos de pessoas, climas e outras condições.”
O tema é importante para que autoridades no Brasil e em outros países avaliem a verdadeira extensão e o impacto do surto que é relacionado a um aumento do número de casos de crianças nascidas com microcefalia, uma má-formação craniana. Saber a real porcentagem de pessoas que apresentam sintomas também poderia resultar num melhor preparo das autoridades da saúde para futuros surtos desse vírus do qual se conhece pouco.
Especialistas médicos afirmaram que havia razão para acreditar que o tão citado padrão pode não ser correto.
"Era um único estudo que foi realizado num lugar, num determinado momento”, disse Marc Fischer, epidemiologista do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e autor do estudo sobre o surto de 2007 publicado no New England Journal of Medicine em 2009. “Para estabelecer um número melhor, é necessário pesquisar em outros locais com outras populações.”
Fischer e outros pesquisadores afirmaram que o atual surto, que provocou um temor sobre a saúde global, poderia levar a uma avaliação diferente da porcentagem de pessoas infectadas pelo vírus que acabam doentes.
Uma vez que se acredita que o Zika gera imunidade naqueles que já foram infectados, o conhecimento sobre o índice de contágio durante essa epidemia também poderia ajudar os médicos a calcular quantas pessoas continuariam vulneráveis se o vírus retornar.
Cientistas não discordam que o cálculo feito na ilha de Yap, na Micronésia, onde o estudo de 2007 foi conduzido, era válido para aquele surto. O estudo foi revisado por outros especialistas e é um dos poucos publicados sobre um surto do Zika.
Muito permanece desconhecido sobre o Zika, incluindo se o vírus causa realmente a microcefalia. O Brasil diz que já confirmou 508 casos de microcefalia que, acredita-se, se deram após o contágio do vírus e que está investigando mais de 3.900 outros casos.