BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central restringiu o acesso de funcionários à Internet para reduzir os gastos em meio aos cortes orçamentários, após ter vedado mais cedo neste mês a realização de viagens de treinamento por servidores até o fim de 2015.
Em aviso interno, ao qual a Reuters teve acesso, o chefe do Departamento de Tecnologia da Informação (Deinf) do BC, Marcelo José Yared, comunicou a alteração do acesso a sites externos, em especial aos que geram consumo excessivo de banda de comunicação de dados. A medida passou a valer na segunda-feira.
Segundo email que circulou na intranet do BC, as mudanças ocorreram "em razão das restrições orçamentárias adotadas pelo banco e visando a redução dos custos de TI".
Com as alterações, os funcionários não podem acessar livremente sites e portais de notícias, mas apenas aqueles cujo conteúdo integral é "de interesse do serviço". O acesso aos demais endereços, inclusive seções de economia dentro de portais, por exemplo, ficou sujeito a uma cota de tempo de 60 minutos por dia.
O presidente do sindicato dos funcionários do Banco Central (Sinal), Daro Piffer, criticou a investida em nota, estimando uma economia financeira pouco expressiva diante das responsabilidades do BC.
"Enquanto o mercado está aparelhado de sistemas e conta com serviços de informação instantânea, o BC trabalha no escuro e corre atrás do prejuízo", afirmou.
"Movimentações atípicas no sistema financeiro, boatos, decisões de política de governo, ataque especulativo à moeda, todos esses riscos são rastreados e identificados com base no conteúdo que trafega na internet, inclusive em portais de notícia", completou.
Procurado, o BC não comentou o assunto.
No início deste mês, a autoridade monetária também vedou a realização de viagens com propósito de treinamento, desenvolvimento e aperfeiçoamento de pessoal, além de participação em reuniões custeadas pelo BC. A regra não se aplica à presidência e diretoria da autarquia.
As restrições ocorrem enquanto o governo busca diminuir os gastos da máquina pública para conseguir cumprir a meta de superávit primário de 66,3 bilhões de reais no ano, ou 1,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
Nos quatro primeiros meses de 2015, o resultado primário do governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência Social) ficou positivo em 14,593 bilhões de reais, o pior resultado para o período desde 2001.
(Por Marcela Ayres)