A última sessão de janeiro foi de alívio nos prêmios de risco na curva de juros. Num dia de agenda fraca, a sinalização do governo para a política fiscal agradou nesta véspera da decisão sobre a Selic. Do exterior, foram bem recebidos dados da economia da China, enquanto nos Estados Unidos a expectativa de que o Federal Reserve deve desacelerar o ritmo de alta de juros foi endossada por indicadores mais fracos de atividade. O dólar teve queda generalizada e os rendimentos dos Treasuries cederam, favorecendo o ajuste de baixa nos juros, que, no entanto, acumularam alta ao longo do mês.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou com taxa de 13,54%, de 13,55% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,87% para 12,84%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,83%, de 12,85%. A taxa do DI para janeiro de 2029 terminou a sessão em 13,00%, de 13,05%. No acumulado de janeiro, a ponta curta abriu em torno de 15 pontos-base e a longa, pouco mais de 20 pontos.
As taxas até chegaram a operar em alta moderada em alguns momentos do dia, mas o que prevaleceu foi o sinal de baixa, amparado principalmente no aumento do apetite ao risco no exterior. O PMI Industrial da China (50,1) em janeiro cruzou a linha de 50 que denota expansão da atividade, o que favorece a perspectiva para as commodities, sendo o Brasil um grande exportador.
Adicionalmente, nos Estados Unidos, caíram o índice de confiança do consumidor, o índice de gerentes de compras, enquanto o que mede o custo do emprego cresceu menos do que o esperado. No conjunto, reforçaram a ideia de que há espaço para o Fed reduzir o ritmo de alta de juros na reunião de amanhã, para 25 pontos-base.
Para a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, as expectativas para as decisões do Fed e Copom amanhã (1º) estão bem precificadas, com apostas de manutenção da Selic e aumento de 25 pontos no juro americano, mas os comunicados geram certa ansiedade. Para o Copom, em especial, o mercado quer saber se e como o BC vai reagir às recentes críticas do presidente Lula e outros integrantes do governo aos níveis elevados de juros e às atuais metas de inflação. "O governo está batendo no BC e o mercado espera uma resposta, mas que poderá não vir", afirma Veronese.
Apesar das críticas de Lula às metas, lidas como intenção de ajustá-las para cima, hoje o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que "a meta de inflação não é um tema em debate na pasta".
Após acenar ontem para a indústria em encontro na Fiesp, hoje o ministro Fernando Haddad se reuniu hoje com pesos pesados do mercado financeiro, no Conselho da Febraban, para tratar da questão do crédito, reforçar aposta do governo na reforma tributária e tranquilizar os agentes sobre a política fiscal. Afirmou que a nova regra já está contratada e que a equipe econômica está formulando a proposta que deverá ser apresentada até abril.
Disse ainda que a redução do déficit previsto para 2023 é uma grande preocupação do governo com relação à inflação, dentro do contexto de desoneração de tributos federais sobre combustíveis. Segundo ele, desde 1º de janeiro não discute mais o assunto. "Não ouvi de Lula novidades para a Fazenda", disse ao ser questionado sobre o tema. A medida provisória que prorroga a isenção de impostos sobre álcool e a gasolina é válida até dia 28 de fevereiro.
Por fim, o mercado também gostou de ouvir do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que a retomada da Taxa de Juros de Longo Prazo (TLP), acusada de enfraquecer a política monetária, não está nos planos da instituição. Mercadante descartou ainda que o banco possa receber aportes do Tesouro, o que também alivia no mercado o risco de medidas parafiscais."Num dia de agenda esvaziada, um conjunto de declarações como esse acaba agradando", diz.