Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de curto prazo fecharam a quinta-feira com leve viés de queda no Brasil, em sintonia com o exterior, onde novos dados de inflação reforçaram a ideia de que o Federal Reserve poderá ser menos rígido em sua política monetária para combater a inflação.
Entre os contratos de longo prazo, as taxas encerraram em alta, em um dia de noticiário interno esvaziado e novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Na sessão da véspera, as taxas futuras já haviam recuado em meio à divulgação de dados da inflação do consumidor nos EUA, que subiu menos que o esperado em junho.
Nesta quinta-feira, foram os preços ao produtor (PPI) que reforçaram a expectativa de uma política monetária não tão restritiva nos EUA. Os preços ao produtor para demanda final subiram 0,1% em junho ante o mesmo mês do ano passado, enquanto economistas ouvidos pela Reuters projetavam elevação de 0,4%.
Em reação, as taxas dos Treasuries de curto prazo tiveram queda firme durante o dia, com investidores precificando chances menores de o Fed, após seu próximo encontro de política monetária, voltar a subir juros.
“Vimos uma continuidade do movimento de queda das taxas dos Treasuries nos EUA, dando sequência ao movimento de ontem (quarta-feira), depois do CPI(preços ao consumidor) abaixo do esperado. Isso está alimentando as apostas de que o Banco Central vai poder começar a cortar a Selic na próxima reunião, em agosto”, comentou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG).
Outro profissional ouvido pela Reuters pontuou que a inflação ao produtor nos EUA aliviou as pressões inflacionárias, ajudando na queda das taxas na parte curta da curva brasileira, ainda que limitada.
Na ponta longa, as taxas sustentaram ganhos maiores, elevando um pouco a inclinação da curva. Além da agenda de indicadores esvaziada no Brasil, o dia foi marcado por novas críticas feitas por Lula a Campos Neto.
Em discurso em evento do programa Minha Casa, Minha Vida, Lula afirmou que Campos Neto “só tem que entender que ele não é dono do Brasil, ele está exercendo um cargo e foi indicado pelo Senado".
“E ninguém está pedindo nenhum absurdo, estamos pedindo: os juros precisam ser menores para facilitar que os empresários possam tomar crédito, para facilitar que a economia volte a crescer, para facilitar que pequeno e médio empreendedor possa financiar seu negócio. É só isso. O que estamos querendo demais? Nada", completou Lula.
De acordo com Rostagno, falas como essa de Lula contribuem para o fechamento da curva a termo na parte curta, com abertura na parte longa.
“Em virtude desta pressão do governo para cortar juros, o BC pode errar a mão e ter que rever lá na frente. A taxa aumenta na parte longa porque o embate suscita preocupações”, avaliou.
Com o movimento desta quinta-feira, perto do fechamento a precificação na curva a termo brasileira era de 32% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da Selic em agosto e de 68% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na quarta-feira, perto do fechamento, estes percentuais eram de 29% e 71%, respectivamente.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,82%, ante 12,838% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,835%, ante 10,781% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,205%, ante 10,111% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,205%, ante 10,109%.
No exterior, o viés ainda era de baixa para os rendimentos dos Treasuries no fim da tarde.
Às 16:40 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dois anos --que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo-- caía 12,20 pontos-base, a 4,6198%.