Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros emplacaram a terceira sessão consecutiva de alta no Brasil nesta quinta-feira, com investidores reduzindo as apostas na curva a termo de corte maior da Selic já em agosto, após a divulgação de dados fortes sobre a economia dos EUA e de notícias sobre possível adiamento de votações importantes na Câmara dos Deputados.
O dia nos mercados globais foi de risk off (fuga do risco), após novos dados da economia norte-americana trazerem a percepção de que o Federal Reserve poderá ser ainda mais rígido na política monetária para conter a inflação.
O relatório ADP National Employment mostrou que o setor privado norte-americano abriu 497.000 vagas de emprego no mês passado, bem acima dos 228.000 postos calculados por economistas ouvidos pela Reuters.
Além disso, o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) informou que seu PMI de serviços aumentou para 53,9 no mês passado, de 50,3 em maio e acima dos 51,0 projetados pelos economistas.
“Os números fortes do mercado de trabalho e de serviços trouxeram um temor de que o Fed seja obrigado a ir além do que já vem sendo precificado, de até duas altas de juros nos EUA até o fim do ano”, avaliou Felipe Garcia, chefe da mesa de operações do C6 Bank.
“Assim, as taxas de juros lá fora abrem bem, assim como no Brasil, as bolsas caem e o real está com movimento bem parecido com outras moedas, como o peso mexicano e o peso colombiano”, acrescentou.
No início da tarde, notícias de que as votações do novo arcabouço fiscal e do projeto sobre julgamentos do Carf poderão ficar para agosto, após o recesso parlamentar, trouxeram desconforto para os negócios. Uma informação neste sentido foi publicada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.
Um deputado federal envolvido diretamente nas negociações confirmou à Reuters que a votação da nova regra fiscal pela Câmara possivelmente vai ficar para agosto. O adiamento para depois do recesso parlamentar ocorreria porque o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiu priorizar a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária nesta semana.
No fim da tarde, o relator do arcabouço fiscal, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), afirmou que a votação do novo marco fiscal pelo plenário deve de fato ficar para agosto.
Tanto o arcabouço quanto o projeto do Carf são considerados pelo governo fundamentais para o equilíbrio fiscal. A perspectiva de adiamento fez o dólar renovar máximas no início da tarde.
Na curva a termo, o impulso dado pelo exterior e pelo noticiário interno voltou a alterar a precificação para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em agosto.
Perto do fechamento a precificação era de 37% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic em agosto e de 63% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na quarta-feira, também perto do fechamento, estes percentuais eram de 44% e 56%, respectivamente.
Na prática, os investidores reduziram um pouco mais as apostas em um corte de meio ponto da Selic já em agosto.
No fim da tarde desta quinta-feira a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,845%, ante 12,805% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,825%, ante 10,769% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,235%, ante 10,171% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,295%, ante 10,208%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries também sustentavam ganhos no fim da tarde, na esteira dos dados positivos da economia dos EUA.
Às 16:39 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 9,20 pontos-base, a 4,0371%.