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Impacto de expectativas sobre inflação em 2014 deve ser o maior em uma década

Publicado 22.09.2014, 18:03
Impacto de expectativas sobre inflação em 2014 deve ser o maior em uma década

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - As expectativas de preços mais elevados no futuro estão pesando cada vez mais sobre a inflação corrente, movimento que dificulta a condução da política monetária e originado sobretudo pela perda de confiança de agentes econômicos no comprometimento do Banco Central em mirar o centro da meta de inflação.

Também influenciadas por perspectiva de correção dos preços administrados, baixo desemprego e forte indexação da economia, as expectativas devem contribuir neste ano com cerca de 0,75 ponto percentual ao IPCA, índice que baliza a meta de inflação, segundo contas do banco Brasil Plural feitas a pedido da Reuters.

Se comparado com a decomposição do IPCA calculada todo ano pelo próprio BC, seria o maior impacto em uma década, respondendo por mais de um décimo da alta de 6,4 por cento da inflação prevista pela autoridade monetária neste ano. Ou seja, as expectativas responderiam por quase 12 por cento do IPCA cheio.

Há quem veja impacto menor, mas ainda alto. A LCA Consultores espera contribuição das expectativas entre 0,50 e 0,60 ponto percentual no IPCA em 2014.

O peso das expectativas é calculado anualmente pelo BC quando ele decompõe a inflação do ano anterior. A autoridade monetária, porém, não estima o impacto disso no IPCA corrente e poucas consultorias se arriscam a fazer projeções.

Entre 2004 e 2010, a contribuição do componente de expectativas na inflação nunca chegou à metade das estimativas para este ano, até ficando negativa em algumas ocasiões, segundo os números do BC.

A partir de 2011 --início do governo da presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição agora--, o peso das expectativas sobre a inflação vem numa crescente ano a ano. (Veja o gráfico: http://link.reuters.com/zez82w)

"O BC interrompeu a alta de juros e recentemente tomou algumas medidas no sentido de afrouxamento. Pela atitude dele, pela própria política que adota, parece que está confortável com o atual cenário de inflação", disse a economista Priscilla Burity, do Brasil Plural, referindo-se às medidas de incentivo ao crédito anunciadas no mês passado.

A meta de inflação do governo é de 4,5 por cento ao ano, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Atualmente, os mercados colocam suas fichas na manutenção da taxa básica de juro Selic nos atuais 11 por cento até pelo menos o fim deste ano, mesmo com a inflação ainda rondando o teto de meta e sem perspectiva de arrefecimento mais consistente.

Em todo o governo Dilma, o IPCA tem permanecido no patamar dos 6 por cento. O IPCA-15 divulgado em 19 de setembro, dado mais recente disponível, apontou para inflação acumulada em 12 meses de 6,62 por cento, superando o teto da meta e no maior nível em mais de um ano.

O BC já deixou claro que não pretende mudar tão cedo a atual política monetária. Para muitos especialistas, a postura da autoridade monetária vem para não atrapalhar mais a atividade econômica fraca, que entrou em recessão no primeiro semestre.

ADMINISTRADOS E SALÁRIOS

Os preços administrados como gasolina, eletricidade e passagens de transporte público têm pesado nas expectativas de inflação. As avaliações do BC são de que eles vão fechar este ano em alta de 5 por cento, acelerando a 6 por cento em 2015, o que acaba alimentando as expectativas.

"Os próprios agentes econômicos já fazem com que os preços de bens e serviços se antecipem ao impacto do realinhamento dos administrados no ano que vem, o que pesa sobre a inflação neste ano", disse o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.

As condições apertadas do mercado de trabalho também pressionam as expectativas de inflação. Mesmo com a atividade econômica fraca, a taxa de desemprego do Brasil continua nas mínimas históricas.

"Quando se tem desemprego muito baixo, os sindicatos e as categorias profissionais se fortalecem nas negociações salariais", afirmou o coordenador técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Airton dos Santos.

De acordo com o Dieese, 93,2 por cento das negociações salariais no primeiro semestre resultaram em aumentos acima da inflação. É o segundo maior resultado da série histórica da entidade, que vai até 2008, perdendo apenas para 2012 (95,6 por cento).

O impacto desses fatores é acentuado ainda pelas disseminadas regras de reajuste automático de preços, como aluguéis, que também realimentam as expectativas.

"A inflação passada vira uma bola de neve", resumiu o ex-diretor do BC e atual sócio da consultoria Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman.

Na prática, as empresas calibram os preços de seus produtos no presente para garantir que a alta de preços que afetam seus negócios, como administrados, salários e aluguéis, não corroa a receita futura.

AJUSTE

Economistas consultados pela Reuters são unânimes ao afirmar que a ancoragem das expectativas inflacionárias passaria necessariamente por expressivo ajuste macroeconômico. Da parte do BC, a principal medida seria novo ciclo de aperto monetário, mesmo diante da economia lenta.

"Herdando um sistema que você julga desequilibrado, seu objetivo deve ser o ajuste o mais cedo possível, para poder colher as benesses depois", afirmou Priscilla, do Brasil Plural.

Idealmente, a alta do juro deveria ser acompanhada por uma contração fiscal. Mas, mesmo se o maior controle das contas públicas não ocorrer, o aumento da confiança na autoridade monetária seria suficiente para reduzir o impacto das expectativas nos preços.

A discussão sobre a credibilidade do BC voltou a ganhar força nas últimas semanas à medida que se aproximam as eleições presidenciais de outubro, após a candidata da oposição Marina Silva (PSB) defender a independência formal do BC, que atualmente possui autonomia operacional.

Procurado, o BC não comentou o assunto.

(Edição de Patrícia Duarte e Cesar Bianconi)

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